13.7.04

Carter, semi-anónimo: uma polémica?

Nas últimas duas semanas o(a) Carter tocou três vezes. Mimos com pouca simpatia, com acusações obtusas à mistura. Das duas primeiras tinha prometido não reagir. Afinal Carter é um pseudónimo que esconde um anonimato. Perante o anonimato a melhor reacção é a passividade. Mas, por outro lado, diz o ditado que “quem não se sente não é filho de boa gente”. Por isso, à terceira a coisa rachou.

Já não vem de agora a discordância do(a) Carter em relação ao que escrevo. Sobretudo quando mete política pelo meio. Com a passagem do tempo tem crescido a hostilidade nos seus comentários. Por exemplo, sugerindo que “eu deixe de me alimentar a iogurtes”, porque o mundo é bem diferente daquele que os meus olhos vêm. Confesso que não compreendi esta dos iogurtes. Não é um alimento nefasto para a flora intestinal. Até é aconselhado com abundância às criancinhas, o que deixa implícitos os seus bons efeitos para um crescimento saudável. Se me aconselhasses a não comer francesinhas, ou feijoada, petiscos que provocam avantajada flatulência que, no teu entendimento, me conduzem a uma visão enviesada do mundo, ainda entendia. Agora iogurtes…

Carter põe-me o rótulo de conservador. Que eu saiba (e até o confirmei no dicionário, sempre útil nestas ocasiões), conservador é aquele que quer manter as coisas no estado em que se encontram. Como se concilia o conservadorismo com outra acusação que me é dirigida – a de que digo mal de tudo e mais alguma coisa? Se tenho esta tendência detestável de aguçar a má-língua, é sinal que não estou satisfeito com o mundo que em que vivo. Logo, ser conservador é a antítese das minhas posições. Mas compreendo o(a) Carter: vê na minha repulsa às esquerdas a necessária conotação com a direita trauliteira, conservadora na verdadeira acepção da palavra. É a atitude típica do “quem não está do meu lado está contra mim” – traduzindo, se ele (que sou eu) critica tão abundantemente as esquerdas, é porque é de direita.

Caro(a) Carter: o mundo nem sempre e assim tão linear, tão redutível a um binómio ao jeito do “ou estás comigo ou contra mim”. Já sabes que as esquerdas me causam alergia. Considera-o exagerado se quiseres, mas é a minha posição genuína. A rejeição das esquerdas (repara que uso sempre a palavra no plural) não representa uma colocação “à direita”. Primeiro, porque da mesma forma que há “esquerdas”, há também “direitas”. Segundo, porque mesmo que para tua conveniência me queiras rotular de direita, definitivamente não sou conservador! Terceiro, porque também já bati sem piedade "nas direitas" que tu não gostas.

A outra preciosidade que já apareceu por duas vezes é o narcisismo que tu vês em mim. Também aqui me socorri do dicionário, por via das dúvidas. Bem sei que por vezes só nós recusamos a admitir certa característica que outros encontram nas nossas personalidades. Quantas vezes somos toldados pela dificuldade de não conseguirmos ver como somos porque é difícil olhar para dentro de cada um de nós? Apesar disso, reflecti no que escrevo e não consigo perceber onde estão os laivos de narcisismo de que me acusas. Ou te enganaste na palavra, ou estás a precisar de óculos.

Lamento que não seja de uma das esquerdas que se abarbatam com o monopólio da verdade. Lamento não ser como tu, tão altivo(a) da verdade, tão certo(a) de que eu vivo no mundo errado, ou que utilizo uma lentes avariadas que toldam as imagens que desfilam perante os meus olhos. É um estigma que tenho que carregar: a crítica contundente, a imperícia para avaliar coisas boas no comportamento dos outros. Negativista? Eu preferia ver a coisa por outra óptica: niilismo. Informa-te, caso não saibas do que se trata.

Aceita um repto: deixa cair a máscara do anonimato e desnuda-te. Aí talvez seja mais fácil ir mais longe na troca de palavras. Por uma sempre saudável polémica.

1 comentário:

Anónimo disse...

Estou a adorar esta polémica Felino versus Carter. Espero k nao acabe porque vos reconheço aos dois excelentes capacidades de argumentação.O mundo é feito de uma coisa que para mim é o "sumo"; O AMOR.
Troquem telefones, combinem um jantar e não se esqueçam, convidem-me.
P.S. O/a Carter tem um par de pernas que faz ver um cego...
Um grande abraço e um grande beijo para a Paula.
ASS:Oeiras e outras terras