30.3.06

A verdade, cada um acredita na sua (a bondade dos sindicatos)

Perez Metello é uma espécie de Luís Delgado da esquerda civilizada. Dos moderados de esquerda, que continuam a acreditar nas meias tintas do mercado regulado – como se a manápula interventora do Estado deixasse o mercado intacto. O perfeito exemplar da esquerda que tem uma convivência ambivalente com o “capital”. As inspirações teóricas, hoje remotas, encontram-se em filósofos que vilipendiaram o capitalismo. O tempo foi bom conselheiro do pragmatismo. O aconchego das regalias materiais trouxe outro tipo de relação com o outrora nefando capital. É vê-los a banquetearem-se na saudação do capitalismo que traz tiques burgueses. No restolho das ideias, vinga o velho “olha para o que digo, não olhes para o que faço”.

Há dias, no Diário de Notícias, Perez Metello andou perdido nesta ambiguidade. Começou por defender a bondade histórica dos sindicatos, como se tivessem sido os Robin dos Bosques necessários para temperar um capitalismo que se inclinava para tentações selváticas:

O sindicalismo a sério, a doer, salvou milhões de seres humanos da inanição, da fome, da morte prematura. O punho cerrado evitou que muitos dedos isolados se quebrassem na voragem de uma acumulação de capital desenfreada e desregrada. Ainda hoje ele representa a última esperança para afugentar a morte que espreita a cada esquina de jornadas de trabalho de sol a sol, a força que se continua a bater, volvidos dois séculos, pelo sustento digno de cada dia: com direito ao descanso e a uma vida familiar, à saúde e à instrução, a um futuro menos ameaçador.

Os sindicatos, a consciência da humanidade. É um tipo de argumentação que me faz espécie. É verdade que o ser humano é ambicioso por natureza. Que faz coisas impensáveis por dinheiro (até os que têm uma retórica de desprendimento dos valores materiais e, no recato da vida pessoal, abocanham tudo que podem, fazendo tábua rasa da retórica tão cheia de lirismo para consumo dos outros). Conhecemos capitalistas que mergulham no mais profundo egoísmo. Só lhes interessa o enriquecimento próprio. Não olham aos meios. Não dão grande atenção aos direitos dos seus trabalhadores.

Apesar do quadro pouco simpático para os detentores de capital (os que assim se comportam, porque interessa evitar generalizações), custa-me a crer que a estupidez humana tenha a paleta de cores sugerida pelos arautos da desgraça (Perez Metello), que idealizam o mundo horrífico em que viveríamos caso os sindicatos não tivessem sido inventados. Não imagino capitalistas esfaimados pelo lucro a sacarem da espingarda e dispararem para os seus pés. Pela metáfora, a explicação de que os “malfadados” capitalistas podem ser ignaros e pouco instruídos, mas percebem que a sua produção depende de quem trabalha. O cenário dantesco da voragem capitalista é um embuste, um esforço para revisitar a história e de a refazer num tributo aos cânones do politicamente correcto.

Perez Metello dá a voz pelos defensores dos sindicatos como herança da civilização moderna. Que me seja desculpada a ingenuidade, mas muitas vezes acredito mais nas virtudes da ordem natural. Da evolução espontânea. Os sindicatos desempenharam um papel importante, forçando a inscrição de direitos dos trabalhadores no catálogo dos direitos adquiridos. Mas apetece especular, interrogar se ao menos os capitalistas absortos pela lógica do lucro poderiam ir até ao fim de linha, oprimir sempre os trabalhadores só para estenderem os lucros. Quem acreditar nisto cauciona um pessimismo histórico acerca da natureza humana. Não só de quem detém capital e pensa que possui o privilégio de espezinhar os mais fracos, a imensa mole de trabalhadores. Também dos próprios oprimidos, como indivíduos, como massa anódina sem motivações, incapaz de se arregimentar para defender os seus interesses.

Os sindicalistas vieram deste povo que sentia a opressão. Traziam um lastro ideológico, uma cartilha bem impregnada. Não eram – como não são agora, com excepções encontradas na geografia – genuínos representantes de quem se diziam representar. Estavam mais determinados em ecoar interesses politicamente motivados. Só por arrasto vinha a retórica da opressão dos patrões aos trabalhadores, e a mobilização destes contra os “imorais privilégios” dos capitalistas.

Como prova da ambiguidade militante destes profetas das meias tintas, o articulista compõe o ramalhete no final da crónica:

Será imaginável uma tal mudança qualitativa sem que ela se reflicta na orientação estratégica do movimento sindical? E, na representação do factor trabalho, que contributo está ele em condições de dar para uma transição mais inteligente, mais qualificante, mais humana? Confesso que vejo muito poucos sinais desta busca. O que vejo é fixismo, resistência à mudança, desnorte corporativo. O "Não!" é a arma de arremesso para as reformas anunciadas. O veredicto está ditado: "Mentirosos! Mentirosos!" O que dirão quando a direita sem peias voltar ao poder?

Nem mais, Perez Metello!

1 comentário:

Anónimo disse...

Este pandelerio deste besgo deste pseudo-economista é mais um traidor iberista feiro com os espanhóis, com a dona da TVi, a Prisa e com o Pina Moura, essa ignóbil criatura.

Vejam bem ao ponto a que chegam estes bajuladores, que este traidor até acastelhou o próprio nome para pareçer bem aos espanhóis, primeiro chamava-se Peres Metelo, foi sempre assim que eu o vi e ele se paresentava na sic e nos jornais onde trabalhava, agora apareçe nos escras da televisão castelhana como Pérez Metello, totalmente acstelhado, com o primeiro nome a terminar em z e com assento, e o segundo com 2 ll, à castelhano.

É só traidores, e senhores como este feiTo com os interesses espanhois não mereçe o mínimo de credibilidade.