3.10.08

A máfia (socialista), contada às criancinhas


Aos petizes, contem-se histórias que exaltam a excelência da democracia. Contem-se, até, imperativos categóricos que são património genético do pensamento correcto. Uma certa moralidade da época moderna que atravessamos, tutelada pelos generosos artesãos socialistas. Para ir formatando as criancinhas aos poucos: ao baterem à porta da adulta idade, já convencidos que é irrecusável a escolha de socialistas para serem bem governados. Tudo de mansinho, de forma insidiosa, quase sem que se dê conta das ardilosas estratégias, pois antes somos anestesiados para não darmos conta das falcatruas que distorcem a democracia.


Só que há histórias que são rapsódias mafiosas, de como quem detém o poder o manipula para lá se eternizar. Ou de quem manobra no poder para enviesar eleições, mexendo os cordelinhos para prejudicar um autarca de cor diferente e estender o tapete à socialista aspirante à autarquia que, coincidência, se acabou de saber que vai a votos nas próximas eleições. Ele há coincidências notáveis.


É uma história de pormenores indecorosos. Havia planos assinados para obras no metro do Porto. A autarquia, porventura ingénua, porventura até mergulhando em irresponsabilidade, antecipou obras na zona para onde julgava que se iria estender a rede do metro. Foi passando tempo, prazos para decisões do governo ultrapassados, decisões adiadas. Começava a cheirar a esturro. Agora que falta um ano para as eleições autárquicas, e logo agora que parece haver acordo no aparelho socialista quanto ao nome da escolhida para roubar a autarquia do Porto ao partido concorrente, o improvável ministro das obras públicas – o homem que tem o livro de cheques na mão – decidiu e está decidido. O metro vai para outro local da cidade. Às malvas os planos, os acordos assinados, as intenções passadas a palavras e imortalizadas na comunicação social. Para o mundo ser um lugar perfeito para a seita socialista, aos súbditos a acrítica obediência, de preferência no silêncio. Só que o mundo não é todo cor-de-rosa.


Cheira a trabalhinho encomendado. Com alvos certos – o alvo a abater e o alvo a levitar até à sinecura. Isto não é uma manobra leal de combate eleitoral. Não pertence às manobras que condizem com a tão elevada moral que os sacerdotes socialistas não se cansam de apregoar – a sua moral tão boa, a dos outros, inevitavelmente reprovável. Já nem sei se é do ministro das obras públicas ainda trazer consigo o lastro da anterior militância comunista, ou se maquinação do aparelho socialista, a "partidarite" na pujança das suas excrescências. Afinal, as eleições são para ganhar. E há eleições mais apetitosas, nuns sítios mais do que noutros. Como era tão bom que o mapa saído das eleições fosse todo pintado a cor-de-rosa – hão-de pensar com os seus botões (também cor-de-rosa). Como não há mundos perfeitos, já se contentam em apagar de locais emblemáticos (e a segunda cidade do país é-o) manchas incómodas que trajam de outra cor. Sem dar importância aos meios usados para lá colocar uma das suas militantes, manobrando às escondidas para ocultar a tremenda batota que estão a encenar.


Depois pode-se discutir: é aceitável, a batota (que eles nunca hão-de admitir que o é, batota)? No complexo jogo das manobras eleitoralistas, vale tudo – até pisar os esteios da igualdade de condições com que os oponentes vão a votos? É legítimo que um dos concorrentes à autarquia tenha os préstimos do governo, a agenda do governo feita de esperas e compassos e decisões em sintonia com a oportunidade da agenda da aspirante à autarquia que tem a mesma cor-de-rosa? Isto não é distorção das condições de igualdade, e ainda para cima instrumentalizando decisões do governo só com propósitos eleitoralistas? Não interessa a racionalidade da decisão (da relocalização da nova linha do metro): o que importa é tirar o tapete ao autarca actual, lançar sobre ele o opróbrio público. Esta maquinação tresanda a trapaça de cima a baixo. Quem disse que eram os socialistas campeões da transparência e das práticas que sagram a democracia?


Estas aleivosias põem-se a jeito de rótulos pouco edificantes: chame-se-lhe batota, chame-se-lhe comportamento mafioso, o que aprouver. Não houvesse um vasto oceano de diferenças ideológicas a separar-me dessa seita, sobrava o argumento derradeiro para nunca depositar o meu voto na máfia socialista: higiene mental. E vergonha.


(Declaração de interesses final: não conheço o autarca do Porto; não contribuí para a sua eleição; e garanto que não vai ter o meu voto nas eleições do próximo ano.)


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