27.2.09

A senhora da DREN, ou “no melhor pano cai a nódoa”


Que se há-de fazer, se a senhora directora da DREN se põe a jeito do escarnecimento? Já não é a primeira vez que dá a conhecer a sua prosa de fina água – se a água fosse fina pelos sucessivos atropelos às regras da gramática, à sintaxe, até à ortografia. Os ofícios que vêm redigidos pelo punho autoritário da senhora já pertencem ao património genético do mau escrever português. Desta vez, porventura por estar abespinhada pela rebeldia de uma escola lá para os confins do Alto Minho, soltou-se-lhe mais um naco de prosa que é exemplar na reinvenção das regras gramaticais e de sintaxe. Ou exemplar de quem tudo dá a mais não é obrigado.


É que ela põe-se mesmo a jeito. Como se põem a jeito da chacota todas as criaturas que passeiam a pesporrência que se confunde com a interior embriaguez de quem ostenta poder. Ai, o poder, como inebria! O poder, confundido como autoritarismo. Esta senhora é daquelas a quem a palavra democracia não passa de uma doce ilusão que se dilui na atmosfera assim que se solta da sua boca. A senhora já prestou provas públicas, e abundantes, de não saber o significado de tolerância quando lhe surgem pela frente adversários ou gente que tem a ousadia de discordar dela. Criaturas assim merecem a humilhação quando são apanhadas em contramão.


O pior é esta ser uma terra onde os poderosos jazem no solo da mediocridade baixia, da mediocridade de onde não se conseguem erguer. São estes os que mandam. Talvez à imagem do povo que tem os votos na mão. Sem surpresa, portanto.


O pior de tudo é esta ser uma terra onde os que adoram possuir o poder não são responsabilizados pelos actos que cometem. Os poderosos – significando os que detêm o poder – não têm que dar o exemplo. Persistem no mau exemplo sem serem penalizados. Erram, flagrantemente, e nada lhes acontece. Na inversão de tudo o que aprendemos a ser normalidade: pois se a mediocridade e a incompetência não são sancionadas, logo esses "atributos" acabam por ser premiados. Um dia destes, isto terá passado a ter a têmpera de normalidade.


Vem isto a propósito do seguinte: então a senhora directora da DREN não tutela os professores da região norte? E, aos professores, não se exige excelência na hora de fazerem aquilo que deles de espera, que é ensinar? Aceitar-se-ia que um professor, mesmo que não seja de português, escorregasse para o chinelo ao maltratar a língua nativa sempre que escrevesse um texto destinado aos alunos? Ficava bem um texto do professor ser corrigido por um aluno, fosse por um aluno acima da média capacitado para denunciar os erros de sintaxe e de ortografia, fosse por um aluno a isso instruído pelos progenitores? Vamos dar a volta à hierarquia: se aos professores não se desculpam as escorregadelas no uso da língua, serão elas de aceitar na senhora que dirige os professores?


Se esta terra fosse normal, se já estivesse na maioridade democrática e ainda não definhasse nos vestígios salazarentos, alguém acima da senhora directora da DREN já a tinha aconselhado a pedir a demissão. É que, usando o adágio popular, se é certo que "no melhor pano cai a nódoa", aqui mais parece que o pano é de fraco jaez e a nódoa é a senhora directora da DREN. Contudo, o que prossegue é a normalidade dos brandos costumes que convivem tão bem com a mediocridade e as exibições de ineptidão. Especula-se por aí que esta senhora está na calha para suceder à actual ministra da educação. Pensando bem, não haveria nisso qualquer laivo de surpresa.


Se, por acaso, a senhora que tanto se atrapalha com a língua fosse a ministra, o timoneiro da pátria devia-lhe atribuir um assessor linguista, a tempo inteiro. Para que a prosa magnífica da então senhora ministra, a prosa que saísse em forma de ofício determinando as ordens aos subalternos, passasse pelo crivo do linguista para expurgar os crimes à língua portuguesa que a senhora está habituada a cometer. Já que a nódoa teria o prémio maior pela sua incompetência, ao menos que não andasse a passear a sua mediocridade através dos textos selados pelo seu autoritário punho. O pano, esse, pelo menos aparentava decência.


E, daí, talvez fosse má ideia: tiravam-nos o prazer de quem se delicia com os acidentes de percurso com a língua portuguesa.

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