12.1.11

Gerontocracia


In https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjVWGGq3fLXbZboAbDDkawJQPUPj4NTTquwhtE9PLq0qfGpMYn_clW1Od9AG_AIQa8q1HJa0_c14GMPTauiEosaLE3RHNoh2TAzjSTKo8nVZOBfN7HnSXKm8MjB-emZ4i8M6ty_/s1600/marretas61.jpg
E se as regras fossem alteradas e só maiores de 65 anos se pudessem candidatar a presidente da república?
Como vendo sendo habitual nos últimos anos, afasto-me da televisão quando uma campanha eleitoral entra em ponto de rebuçado. Desta vez, só tenho acompanhado a inútil campanha para uma inútil eleição através dos jornais que não consigo deixar de ler. Eis o estado da paisagem: meia dúzia de jarretas que deviam estar em casa de pantufas a gozar a reforma (excepto dois dos candidatos nos quais, me parece, as rugas dos bilhetes de identidade ainda não dão direito à reforma: o camarada comunista e o madeirense que é um Manuel João Vieira de vão de escada). É de louvar, em todo o caso, que os candidatos em avançada idade consigam ser globetrotters do asfalto, palmilhando quilómetros atrás de quilómetros até à próxima acção de campanha, até ao próximo “banho de multidão” (ou nem tanto). E como devem ser cansativos os “banhos de multidão”.
Eu sei que arrisco a acusação de ostracismo social, ou sofisticado “fascismo social” se os cânones dos sociólogos à la Prof. Boaventura tivessem autoridade bíblica. Sei que me podem acusar de mau gosto por assinalar como esta eleição está dominada por candidatos gerontes. Perguntarão: e há algum mal nisso? Podemos excluir candidatos de provecta idade, apenas porque uns mal dispostos (entre os quais possivelmente me incluo) se incomodam por uns corajosos anciãos deitarem o peito às balas querendo ser presidente da república? Podem-nos ensinar, esses sensatos, que o cargo tem uma espessura de solenidade, que não exige muita intensidade de trabalho. Uma espécie de reforma dourada, ou o coroamento de uma carreira política para a personagem que sair vencedora das eleições. Esses sensatos até podem notar que o cargo exige uma ponderação que só está ao alcance de quem tem muita tarimba, o que não acontece com os mais jovens.
Nesse caso, porque não se altera a idade mínima para ser presidente da república? Eu diria 65 anos. Agora era altura de pedir ajuda aos colegas politólogos, talvez com uma mão de historiadores da contemporaneidade, e atirar a seguinte pergunta: há quanto tempo não se candidata alguém com menos de (e já nem vou ser exigente na fasquia) 50 anos? Parece que há uma proibição implícita para que gente mais jovem, ou pelo menos não tão velha, avance com uma candidatura ao cargo. Se me acusam de ostracismo dos velhos por estar contra a gerontocracia dominante, será que a acusação não se vira do avesso por os mais novos ficarem sem tapete se aspiram à mais elevada sinecura?
As regras cristalizam costumes (ensina-se aos estudantes de direito). Se a proibição implícita dos mais novos (desde que tenham mais de 35 anos) parece enraizada entre os sapientes fazedores de opinião, por que não se alteram as regras subindo a fasquia da idade mínima para os concorrentes à eleição presidencial? Não interessa que haja gente menos sensata (eu, por exemplo) que reclama sangue novo, que gente mais nova tome o protagonismo dos gerontes de má memória que são a oligarquia dominante. Somos uma minoria, e às minorias não se dá ouvidos. Assim como assim, é por falta de sensatez (como a que desfilou neste texto) que os trintões, quarentões e cinquentões não devem cometer a ousadia de se candidatarem a presidente da república. O cargo não lhes cai bem, por falta das rugas necessárias no bilhete de identidade.

2 comentários:

Vanessa, a Mãe Possessa disse...

Pessoalmente acho que um Presidente deveria ser escolhido de acordo com dois factores: o perímetro abdominal; e a capacidade de síntese (que podia ser testada em prova, cujo objectivo seria escrever um discurso completo numa página A4).
O bonacheirão de barriga inflada, demasiado embrenhado no sistema, de boca cheia de palavras gastas, cansadas, não deve ser confundido com a imagem romântica da bonomia que uma vida sábia gera.
O homem resoluto e emagrecido pelas contrariedades sabe o que lhe é essencial. O asco da soberba enrijece-o ainda mais.
Acredito no poder da austeridade, seja em que idade for, na "cristalização dos valores", em sequência de eras de laxismo imbecil.

PVM disse...

Gostei da ideia do perímetro abdominal como parâmetro de elegibilidade!