23.2.11

O sexto mandamento: não “facebookarás”


In http://ocasionalidades.files.wordpress.com/2007/06/26fotg1.jpg
E portanto confirma-se: há muito clero mandante que continua atamancado nas catacumbas do tempo. Depois admiram-se que usem palavras como “bafio” quando os insurgentes atiçam a igreja católica. Ele é o chefe supremo que condena a utilização de preservativos, com a insólita ideia de que espalham a sida. Ele é a castradora moral católica quando se fala de sexualidade, como se o sexo fosse um pecado mortal. Ele é outra castração, a proibição de as mulheres poderem ser padres, ou os padres serem compelidos ao celibato que contraria os ditames da biologia. Um rol interminável.
A notícias que deixam a igreja mergulhada em ridículo continuam a bater à janela. E o pior nem é a igreja cair em ridículo; é isto alimentar um beatismo de sinal contrário, o dos beatos do anticlericalismo acirrado. Tão insuportável é a cegueira dos fanáticos das sacristias como a prosápia dos lunáticos anticlericais, que têm a mania de chamar a si uma superioridade moral que não é muito diferente da que os ratos de sacristia passeiam por aí.
Desta vez, o conselho de administração de um convento em Toledo descobriu que a freira Maria de Jesus Galán tinha um perfil no facebook. A irmã foi sumariamente despedida. Que aleivosia, uma freira que entregou o coração a deus emprenhar-se com os ventos das novas tecnologias, expondo-se às heresias que povoam as plataformas que, dizem os néscios, inovam a forma como as pessoas comunicam. É que nisto das redes sociais a hierarquia eclesiástica aplica o famoso mandamento que vale para as massagens: sabe-se como começa, nunca se sabe como acaba.
Não sei se o episódio chegou ao Vaticano. E se o Vaticano, embebido no seu arcaísmo, assinou por baixo a decisão do conselho de administração do convento de Toledo, aplaudindo por cima. Ou se o Vaticano, querendo solfejar um ar desemproado, mandou por canais codificados (para não se saber, que isto de dar o flanco encerra os seus perigos) uma reprimenda aos administradores do convento. Diriam que foram mais papistas que o papa. E que esse excesso de zelo é um tiro no pé que embacia a imagem rançosa da igreja.
Ou, porventura, os sábios que atam as pontas da doutrina católica acrescentaram um sexto mandamento: não “facebookarás” para não caíres em tentação. Mandamento de verificação obrigatória por todo o clero, desde as mais altas instâncias da hierarquia eclesiástica às noviças dos conventos. Nunca se sabe os satanás que habitam nos insondáveis interstícios das redes sociais. O que elas escondem, ou os caminhos ínvios para que podem ser atirados os ingénuos que as frequentam.
Depois de tomar conhecimento da demissão da freira Galán, tenho uma vaga desconfiança que as redes sociais são a máscara que esconde os diabos que espalham os maus caminhos por onde as almas se tresmalham. Não é por acaso que o clero, e as autoridades eclesiásticas em especial, têm canais privilegiados com a suprema entidade divina. Esta, omnisciente como consta, ter-lhes-á sussurrado a meio de um conclave: “abram os olhos, as redes sociais estão contaminadas pelos imensos demonetes que devemos combater”. No dia seguinte, a freira Galán pagou a ousadia de não ter adivinhado o sexto mandamento.

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