18.3.11

Por onde anda a estética dos publicitários?


In http://www.meiosepublicidade.pt/wp-content/uploads/2009/10/tshirts_caoazul_eusobreviviaoanuncio.jpg
Eu sei que não se toca em vacas sagradas. Os que cozinham a publicidade têm de si mesmos um elevado sentido estético. Permito-me duvidar de tanta auto-complacência. É que, volta e meia, caem em cima da mesa anúncios publicitários aterradores. Daquilo a que chamo “publicidade negativa” – ou a publicidade que é um convite a comprar na concorrência, tal é o seu poder repulsivo.
O Pingo Doce é pródigo no estilo. Quem arranjou o compositor musical que desembainha aquelas cançonetas estridentes que andam a ser trauteadas na rua pelo povinho, como se as cançonetas se incrustassem no ouvido como teimosa cera que adere ao pavilhão auricular? Se não são as melodias peçonhentas que pedem meças ao pior estilo pimba, são os slogans que entram no cérebro como parafusos impiedosos. O último, entronizando o frango campestre, é o “cocó ró cocó” que as galinhas em decesso soltam quando alguém as toma entre mãos ao retirá-las das prateleiras refrigeradas de um supermercado. À custa desta publicidade, compro os mantimentos algures.
Há exemplos em catadupa. Só dos últimos dias, resgato dois às lembranças. Primeiro, um anúncio que escutei no rádio. O BES aconselha a poupança e premeia os corajosos aforradores com mealheiros com a impressão digital de uma famosa estilista internacional (Ágata qualquer coisa). Para convencer os sortudos que ainda conseguem rapar do fundo do tacho uns trocos a não os enterrarem em serôdio consumismo, o BES alicia com uma cançoneta cantada por vozes desafinadas de petizes ainda muito imberbes.
Ou não conseguiram arranjar no casting vozes mais afinadas (o que deixa meãs esperanças para o futuro da canção pátria), ou aquele coro em estridente desafinação tem um simbolismo escondido que devia ser interrogado aos publicitários. Cá para mim, é uma vingança dos mal remunerados publicitários. Como vivem à míngua e não conseguem aforrar, meteram ali pelo meio os petizes mais desafinados que conheceram no casting. De cada vez que ouço este anúncio fervem-se-me as meninges (e não sei se será só do efeito do esforço físico, que isto passa na estação de rádio sintonizada no ginásio). Quando houver poupanças, só sei que não vão desaguar àquele banco.
Outro exemplo: a Sotinco tenta convencer a gente que quer mudar a cor das paredes lá de casa com um anúncio na televisão que lembra as cançonetas foleiras dos Abba. Dois homens e duas mulheres envergando vestimentas com cores garridas e formas avantajadas despejam, em forma de canção, umas inanidades sobre os predicados das tintas enquanto passeiam os convenientes sorrisos esmaltados. Admito que os empreiteiros – os mesmos que alardeiam Mercedes de duvidosa estética – e os trolhas mestres na arte do piropo de mau gosto fiquem embevecidos com o anúncio que dura uns trinta segundos que mais parecem uma eternidade. Se eu fosse pintar a casa, não era com tintas Sotinco.
Esta exegese à publicidade faz pensar que há alguém que nidifica nos piores pesadelos da inestética. Admito que os responsáveis pela pavorosa publicidade argumentem que são alfaiates que se limitam a alinhavar publicidade à medida dos gostos (inestéticos) da maioria. Tenho cá para mim que é uma carapaça onde se escondem estes publicitários (certos publicitários com propensão pimba). Uns lídimos azeiteiros, é o que são. 

Sem comentários: