11.7.11

Metáfora


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Um leque desfolhado. As formigas que perseveram. No pino do verão, a miragem das águas do rio olhadas do distante miradouro. As crianças não desistem da algazarra nem que os corpos sejam passados pela insuportável soalheira. A miséria, sempre a miséria que adeja com pedintes na habitual peregrinação de lamentos. A luz tépida do entardecer, anunciando a penumbra após o deslumbramento do pôr-do-sol. Enquanto o copo de vinho se esvazia na esplanada por onde passam os veraneantes no descanso estival.
Os significados, por entre a hermenêutica dos sentidos, revelam-se na sua multiplicidade. Ora malsãos, ora de uma generosidade desapaixonada, os significados – das palavras, dos gestos, das intenções – perfumam os dias com a renúncia do marasmo. Nas folhas multiformes do leque desfolha-se a policromia dos sentidos. Quando se resgata o percurso já emoldurado na fotografia das memórias, parecemos as formigas que jogam a sua paciência com um propósito qualquer. Os planos esboçados no estirador mental esbarram nas duráveis adversidades. Pode a canícula estival desmotivar a perseverança, mas a coragem do devir recusa a capitulação. Dizemos que somos exemplos no incessante desfile das gerações. Faça-se de conta que isso interessa: afinal são as crianças em inesgotável açougada, apesar da insuportável canícula, que oferecem o padrão. Nós, resignados na sombra protectora, ou apenas no pretexto para abdicarmos da firmeza dos propósitos que conduzem os dias vindouros, contemplamos as crianças com um laivo de inveja.
Jogam-se as cartas no tabuleiro onde os naipes desatam o devir. Sobram as intenções, os planos preenchidos por uma grandiosidade mirífica, os adiamentos todos. Ao pé das incansáveis crianças, somos pedintes em contínua demanda de comiseração. A maior indignidade que se joga contra nós. Parece que o ocaso é irrefreável. O copo de vinho esvazia-se. Com uma impostora lentidão, os minutos esgotando-se na sucessão de espelhos que se empenham em fermentar a ilusão dos momentos. 

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