14.9.11

O crepúsculo em sortilégio


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Quando as horas, tal como as ruas, são desertas. Só se escuta o silêncio do vento. O orvalho cadente espuma na extremidade da relva, emprestando um brilho ao dia nascente à medida que se soerguem as primeiras colorações do sol. Antes, porém, a embaciada claridade tinge o medo noturno. Derrota-o. A claridade promete a revelação do dia nas suas tonalidades garridas, como se fosse uma voz que ecoasse na profundidade da paisagem mental um segredo que não é em vão.
As mãos atiram-se ao ar. Querem encerrar em si o matinal ar fresco. Depois, numa coreografia demente, as mãos depõem o viço do ar matinal por todo o corpo, como se o ensaboassem com o sortilégio do ar extemporâneo – do ar abundante, ainda não tomado pela poluição da multidão que não demora a sair às ruas, dos chacais que se apoderam da claridade e da vivacidade do ar (assim perdida), perfumando-as com o desassossego que se acotovela em ruas apertadas.
O crepúsculo da alvorada é uma oferenda, dir-se-ia, divina (caso houvesse divindades). Mesmo o bulício da cidade se aplaca na tremenda acalmia propícia do amanhecer impregnado de claridade. Não se demova o corpo pelos tons baços da madrugada; oxalá eles se demorassem pelos minutos fora, oxalá conseguissem adiar o sol que, manda dizer o boletim meteorológico, cobrirá de escaras tisnadas mais um dia de verão tardio. Ainda a pele não se envidraçou com o suor engordurado, ainda os músculos rodopiam com a vivacidade matinal e as ruas se espraiam desertas. Ainda pureza.pri﷽﷽﷽﷽﷽﷽﷽çou do visco pr hermetismo do nada, e as palavras fluem adocicadas pelos pensamentos hipnssego da turba que se acotove
Eis o sortilégio do crepúsculo matinal: se os olhos se detiverem demoradamente na constelação de cores que se apoderam do firmamento, eles são açambarcados por uma fulgurante anestesia. Os sentidos, encapsulados no hermetismo do nada. E as palavras fluem adocicadas pelos pensamentos hipnóticos.
O sortilégio do crepúsculo alvar é uma lamentação: a marcha imparável do sol que finda o império da madrugada.

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