Adiamento

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Numa floresta de sonhos, entre a palidez das folhas caducas que se estiolam no solo seu orfanato, os pés tiram a esquadria da errância. As mãos nas algibeiras protegem-se do frio húmido. Tiritam. A respiração ofegante sela a demorada deambulação aleatória. O silêncio é rasgado pelo crepitar dos galhos que se quebram à passagem dos pesados pés. Às vezes, quando o cansaço grita um ensejo de repouso, o silêncio é tanto que se faz ensurdecedor.

Andava há horas numa errância propositada. Queria mergulhar no emaranhado de árvores todas iguais, numa simetria que agredia o pensamento, perder-se entre os labirínticos corredores que encimavam as fileiras de arvoredo. Perdia os passos entre a angústia de outra preterição. Havia alturas em que um precipício convidativo era chamamento para os atos que queriam que fossem vãos. Sabia da experiência pretérita que um passo por diante era em falso, o corpo em queda livre no precipício. Sabia: que de outras vezes consumiu tanto tempo a recolher os fragmentos que sobraram no fim do precipício. As lições de outrora eram olvidadas quando os ponteiros do relógio faziam um chamamento – e o chamamento podia ser a entrega no insidioso colo do precipício ou a recusa firme, enfim, uma manifestação de vontade.

Na hora crucial, quando uma espada se desembainhava sobre si e sentia o arfar insaciável do algoz no enfiamento da nuca, capitulava. Postergava o ensimesmamento. Inerte, era presa fácil no xadrez alheio, peão dispensável quando aos demais a utilidade se esgotava e, enfim, percebia que fora vítima dos oportunismos exteriores a si. Tinha então um raro momento irascível. Efémero como inconsequente. Não tardava a entrar nos eixos que tão mal lhe serviam. Era um eterno aprendiz. Um joguete ao deus dará, tropeçando nas conveniências fora de si, atropelado por elas sem dó.

A transparência era o seu túmulo. Não se convencia que os “princípios” (assim, com aspas) eram património dos ingénuos. Este lugar pertencia aos que açambarcavam a ossatura dos ingénuos.