1.11.11

Estarolas


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Ah, os rituais da convivência – daquela que obedece ao código genético da gente muito interessada em ser aspirante na escaleira social, nem que seja para darem inadvertidamente razão aos marxistas. Mas elas lá sabem o que são marxistas (nem o Grouxo Marx comediante, quanto mais o Marx coveiro ideólogo). Rituais. A roupinha bem composta, maquilhagem prolixa, as conversas tão ocas, entediantes menos para elas, campeãs da leviandade.
Às vezes recompensa andar pelo seu habitat para ser observador destes comportamentos. Como se fosse um cientista social a sério dentro de um laboratório vivo. Aprende-se muito. Com conversas captadas em surdina. Com os olhares que fitam em redor, radares bem afinados que anotam os famosos do meio. Eu, a atirar para o matarruano, desconheço os famosos do meio, os queques ou aspirantes a sê-lo, uns e outros a envergarem a mesma roupa que os entroniza tutores da moda. O ritual do vestuário é sinal identitário. Aglomeram-se à volta da indumentária, os queques genuínos e os aspirantes a sê-lo, os que passeiam o pedigree balofo e os arrivistas endinheirados, saloios novos ricos que aterram vindos da província e, ao abrirem a boca, estragam a engomadinha indumentária. Convém dar uma perninha nestes lugares. Para aprender a estar nos antípodas de tudo isto.
É a proclamada “gente bonita”. Isto merece decifração, que a linguagem em que navegam as estarolas é primata mas agasalha-se em codificações. Podem ser espécimes de bradar aos céus, tanta a feiura. Tenham a linhagem certa, sejam a porta de entrada para as estarolas aspirantes a um degrau mais alto na escaleira social, e nem a feiura desarranja o rótulo. Continuam a pertencer à “gente bonita”, essa gente de festarolas e néon que habilita a nata social.
Eu digo que tenho comiseração das estarolas. Imarcescíveis em perene vacuidade mental (o que interessa é “divertir”, pois pensar é enfadonho; o que interessa é ver “gente bonita” a desfilar – e, se possível, ser vista pela “gente bonita”), levitam a frivolidade nas pontas dos tacões. São embrulhos vistosos. Uma vez abertos, lá dentro conservam a inanidade toda.

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