12.12.11

Deutschland über alles


In https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgqv-IITIO5b6d2Lw-XbF-IX98vir3nmjWK2P2QRgGSQgh1XktwK2zzSj77Kp1aey0c0TGG7PIQdACpCFFsbZh7my7xLSzRaTRlX3sF46GicgUbNjzrJsj_-y3E_TQV539YBbHD/s1600/deutschland.jpg
Que grande reboliço, um coro imenso de vozes em tom de protesto contra a Alemanha que quer fazer da sua a vontade do resto da Europa. A hermenêutica dos factos tem múltiplas fiadas que contentam gostos diversos. Gosto particularmente da visão cénica que esbraceja fantasmas de outrora garantindo que os teutões vão chegar pela paz, de mansinho, onde não conseguiram chegar à bruta pela força das armas nas duas guerras mundiais. Preparemo-nos. Um dia destes acordamos todos alemães.
Há outra efabulação que é música para os meus ouvidos. Os mastins advertem que um euro tão forte só interessa aos alemães. E como os alemães conseguiram aquilo que quase mais nenhum país alcançou (pôr um freio na subida dos salários), canibalizaram a competitividade dos outros, que não souberam estancar a sangria salarial. E a verdade absoluta, irrefutável (apanágio dos sectores que cultivam este argumento), aterra nos baldios do conhecimento estéril. Sem contraditório.
Eis o contraditório às ideias feitas. Primeiro, uma moeda forte é adversa para os países que mais exportam (as suas exportações ficam mais caras). Adivinhem quem mais exporta: a Alemanha ou os países periféricos, aqueles que se põem a jeito da vitimização do euro? Se a Alemanha manda nisto tudo, tem uma propensão para acertar tiros no pé. Segundo, se o freio na subida dos salários era o truque para vingar na competição dos mercados, por que não souberam (ou não quiseram) os outros aprender a lição? Acho encantadoras as lamúrias dos que se sentem traídos pelo caminho onde o euro nos trouxe, quando escarrapacham no rosto da Alemanha os muitos BMW, Audi, Mercedes, etc. que todos os outros, os não alemães, lhes compramos. E alguém nos obriga a comprar este material?
Admito: tenho a mania do espírito de contradição. Por estes dias em que só falta inventar um campo de concentração para a Alemanha, eu sinto por ela uma especial atração. Por tanto nela baterem. E porque o coro que entoa os protestos se esquece que o admirável desempenho económico alemão depois da segunda guerra mundial não foi obra do acaso. Não foi à custa de diarreia orçamental ou de bebedeiras de inflação.
Por que não temos a humildade de aprender?

3 comentários:

Sérgio Lira disse...

A Alemanha, e os os alemães, são territórios perigosos. Não um por por um: até são toleráveis, simpáticos, sorridentes, amistosos, lourinhos/as. Mas em conjunto são perigosos: de tão metódicos e de tão capazes. Um caminho traçado é um caminho a seguir, sem escolhas e sem alternativas: sem visão lateral e sem pensamento divergente; sem imaginação Apenas por isso podem ser derrotados: são previsíveis. Derrotados: porque com os alemães (nação) não há convívio pacífico - são predadores, e dos pesados. E o cheiro de guerra está no ar, só não sente quem não quer: como em 1939 quando Hitler declarava solenemente que NUNCA atacaria nenhum dos países que menos de 6 meses depois invadiu. A areia só é bom travesseiro para as avestruzes.

PVM disse...

Sérgio:

Talvez por ingenuidade (ou porque hoje não me apetece pessimismo antropológico), não acredito que a História se repita.
E depois há essa coisa do estereótipo. Serão estes alemães de agora iguais aos de 1939? Não aprenderam nada com as duas coças que levaram?
Um abraço!

Sérgio Lira disse...

Paulo: eu não poderia (defeito de formação) sequer presumir "repetição de História". Mas o que dizia não é estereótipo: é conhecimento de causa, genético. Não, nao aprenderam nada, nadinha, com as duas coças que levaram - pelo contrário, acham-se credores. Têm uma vago complexo de culpa pelos judeus chacinados, mas muito vago, delido... afinal, quem está a atacar a Alemanha, agora, são os judeus (outra vez) não são?... o título do teu post é muito mais que uma frase feita.