26.1.12

Roda vinte e seis


In http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/8/89/Cyclone_Catarina_from_the_ISS_on_March_26_2004.JPG/250px-Cyclone_Catarina_from_the_ISS_on_March_26_2004.JPG
Desembaraçada, um furacão que levava tudo à frente quando a fúria irrompia na companhia da manhã. Não era a franzina compleição que impedia ser despachada. Não se intimidava com os matulões, nem por lhes chegar apenas meia-leca acima da cintura. Quando era preciso, berrava mais alto. Punha-os em sentido quando moldava o olhar iracundo que deixava inerte a ossatura dos outros.
Não esperava que tratassem dos assuntos que lhe pertenciam. Metia os pés ao caminho e, com as mangas arregaçadas, dava andamento até às vulgares tarefas. Era um vulcão que nunca adormece. Não tinha abatimentos, nem um arrependimento pela torrente incendiada de palavras que esmagavam quem lhe fizesse frente. Dava gosto vê-los a meterem o rabo entre as pernas, quais cães sarnentos envergonhados pela estridência que se abatia em cima deles.
Não era enganada pelos varões avulsos que ensaiaram aproximação com segundo sentido. Tirava as bissetrizes à distância e, antes que avançassem por onde não deviam, punha tudo em pratos limpos. Com linguagem de caserna, se preciso fosse para avivar o entendimento dos convenientemente relapsos de entendimento. Quando uns teimosos insistiam na verborreia e se achavam penhores de especiais predicados, matava o assunto com a ameaça de violência física. Desarmados, recuavam e dissolviam-se no mapa.
Era de armas – disso não duvidavam os que eram próximos. Ao pé dela não havia remanso, não era tutelados tempos mortos. Ele eram exposições, cinema, livros que desatavam um quase existencial pleito com quem embarcasse na discussão, cães abandonados e a incorrigível falta de sono. Ao pé dela os dias eram um carrossel interminável. O tempo, açambarcado com usura. Os olhos não descaíam no firmamento onde apenas vogava o nada. Os corpos não tinham tempo para abdicar da sua febre. As palavras matraqueadas erravam num caudal voraz, como se fossem martelos pneumáticos percutindo as cordas sensoriais que não se podiam remeter à hibernação.
O corpo murcho não fazia jus ao vulcão interior que tudo deixava em desassossego. 

1 comentário:

Vanessa, a Mãe Possessa disse...

Vale a pena conhecer (e sentir) uma punção assim