7.8.12

O analfabetismo que magoa


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Uma reportagem sobre cortes nos subsídios sociais. Com exemplos na primeira pessoa, testemunhos do pesar pelo emagrecimento do orçamento familiar. O governo é apanhado no restolho da mágoa. Como somos a maioria que é muleta das autoridades, a reportagem tem o efeito de um punhal que se mete fundo na carne. Parece que somos culpados pela restrição dos subsídios aos mais necessitados.
É uma forma de analfabetismo. Dirão que não é analfabetismo, que de uma iliteracia se trata, uma disfuncionalidade cognitiva da jornalista empenhada numa militância que devia estar omissa caso o jornalismo não se tivesse transformado numa modalidade de intervenção social. A jornalista toma atenção ao acessório e desvia-se do essencial: uma das senhoras afetadas não sabe ler a carta informando que o subsídio social será menos gordo. Esse analfabetismo numa senhora de meia idade não é tema, é uma vírgula desencontrada na reportagem. E, talvez, se a senhora soubesse ler, se tivesse alguns estudos, não haveria reportagem em comiseração pela dilacerante situação dos que vão ser privados de uma fatia da generosidade de todos nós. Enquanto houver destes casos de analfabetismo no meio da grande cidade, não conseguimos sair de um tacanho subdesenvolvimento.
O analfabetismo dos jornalistas também se manifesta pelo encantamento com os aspetos mundanos da vida de notáveis. Nos últimos dias, um punhado de não-notícias com a participação de um guru do empresariado, aquele rapaz que mistura amiúde inglês com a língua nativa, de sorriso perene (tão perene que até parece ser porta-estandarte de uma empresa de dentífricos), o chairman dos telefones. Ele é uma encenação com um famoso arquiteto, discorrendo sobre o futuro das tecnologias. Ele é uma fotografia do senhor a sair de um banho de mar numa praia algarvia (necessariamente da moda) em pleno desfrute da pausa laboral. Ele foi, mais lá atrás, a especulação de que uma empresa da concorrência no abastado Brasil o queria contratar (supõe-se que pagando um salário ainda mais opulento).
O ainda jovem mas já muito famoso Bava aparece, do meio do nada, em contínuas genuflexões da imprensa que o alçam a um pedestal quase divino, e a mim cheira-me a analfabetismo de quem se presta a este papel. A quem interessa Bava?

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