9.8.12

Radar

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Havia dias com a mira afinada numa ambição impossível. Queria ser radar, ou então voar sobre a terra para tudo saber de uma assentada só. Uma sede exagerada de saber, por tanto alcançar a pequenez do saber metido no bornal. Não era por ostentação. Não queria exibir uma cruel espessura de saber, daquela que faz estalar o sórdido verniz da sobranceria. Tão pouco queria um mar de sabedoria para afirmar erudição singular.
Podia ser apenas uma bravata revolvendo-se nas entranhas, a perene insatisfação pelo tanto que ainda havia por conhecer. Nesses dias acordava tomado por um frémito, ávido consumidor de tudo o que pudesse ser sabedoria. Nos dias de acalmia, quando a sensatez firmava os pés no chão, sobrava lucidez para consentir na insanidade dos dias em que se pretendia tutor de um conhecimento enciclopédico. Às tantas, por entre o fulgor que irradiava no entretanto, endossava a esses dias a patologia do saber almanaque.
Esses eram dias em que o radar do conhecimento tomava conta do pulsar das veias. Não havia nada mais que interessasse, muito menos as mundanas coisas que, de tão mundanas, desfilam diante dos olhos a cada dia desfolhado. Desligava-se de si mesmo, numa catarse que julgava redentora. Uma redenção das pessoais incapacidades anotadas num escondido caderninho de apontamentos. Arrecadava todas as formas de sabedoria que apareciam pela frente, sem de um critério cuidar. Não se detinha para saciar a fome, que a única que alcançava firmamento nesses dias era a fome de conhecimento. Podia estar assim, dias a fio, desligado do resto.
Quando por fim o cansaço da função pousava no alpendre de onde consumia o musgo do conhecimento, era contaminado por um estranho imperativo: as doses maciças de sabedoria não tinham ficado nem na mais fina camada da epiderme. Sabiam a conhecimento inútil, forçado. Eram um naco de outra patologia mais persistente – o temor de que o tempo sobrante fosse sempre uma curta elipse e que tempo faltasse para se fazer senhor do muito conhecimento por conhecer. 

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