18.9.12

Aos polícias que batem, o amor


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A menina atravessa a fronteira da provocação. Mas a menina está cheia de boas intenções. Insinua-se, curvilínea, na sensualidade dos corpos que se entrelaçam. O polícia apanhado de surpresa no instante, não sabe esconder a cara de poucos amigos que é timbre dos polícias treinados para distribuir bastonada em arruaças populares. Mas o polícia é um homem. E os homens não conseguem resistir ao apelo das hormonas. (Por isso é que a castidade dos padres é um dos maiores mitos destes tempos.) O resto, o retrato já não mostra. Aquele instante, o único que não resistiu à captura para a posteridade, condensa o rosto da imaginação. Que vem servida, em fina porcelana, pela interrogação: e o depois? Convoquem-se os cenários – os da criatividade e da sensibilidade que atende aos papéis ali jogados. Um: o polícia meteu ao bolso a efervescência das hormonas. Envergonhou-se com o sorriso, entre o sarcástico e o assarapantado, dos populares. Jornalistas e manifestantes exultavam, algumas palavras soltavam-se para o polícia se soltar da farda e do arsenal. Que deixasse o polícia ser o homem que não resistiria à mulher provocante. Mas o polícia, ciente da função, manteve a postura. Acorrentou as hormonas à estiagem da responsabilidade e sacudiu a ninfeta para longe, com modos brutos (que os polícias desta igualha só sabem ter modos brutos). Ou dois: o polícia perdeu a cabeça. Alguns juram que lhe notaram súbitos suores frios. Ficou branco mas depressa corou. Enquanto a rapariga ensaiava a coreografia sensual, as tremuras nas mãos tomaram conta da inércia. Tirou o capacete, desprendeu-se de todo o arsenal com que o equiparam. E nem os colegas, treinados para a rigidez das emoções, esboçaram socorro do polícia. Se calhar queriam a posição dele. A jovem tirou-lhe o colete à prova de balas e desabotoou a camisa em duas casas seguidas. Meteu a mão por dentro do peito, para gáudio da turba que assobiava em jeito de consentimento da parelha. Saíram de mãos dadas. Durante três dias, ele não deu notícias no quartel. Três: a mulher foi repelida por um empurrão efeminado do polícia.

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