1.11.12

A irmandade das bruxas


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Não interessa a tradição dos outros que se faz tradição abastardada de nós. Ou interessa? Na volta da esquina, interessa. Pois, diriam aqueles infundados sacerdotes das culpas alheias nos males próprios, este estado comatoso que sobre nós se abateu só pode ser arranjinho de bruxas. É bruxedo – e arrumamos o problema para canto, descoberto (ou, melhor dizendo, inventado) o diagnóstico. Aproveitemos o dia das bruxas para as exorcizar. E já que mandam os supersticiosos, esses vultos da culpa atirada para as calendas, devíamos ter festejado o dia das bruxas com mezinhas que tivessem o condão de as devolver para o lado de lá do mar, de onde elas vieram sem terem sido convidadas. Ou, para os devotos de religiões várias, o dia devia ser consagrado a preces redobradas para defumar os bruxedos que congeminaram o coma que mais parece pertencer ao irremediável. Para os que nem supersticiosos nem religiosos forem, fica a resignação da crise que dói. E, no talvez mais importante, se cativem as forças sobrantes para dedilhar a página inerte do diagnóstico, que o mais importante é arranjar cura para os males que bruxas diversas foram semeando no nosso caminho. Pois o dia das bruxas devia ser um louvor a todos os arquitetos que tiveram o zelo de nos carregar até ao limiar do precipício. Em vez de manifestações onde os gritos de indignação se fazem ouvir, entaramelados com alguma ideologia oportunista (ou, dir-se-ia, oportunismo ideológico), as gentes deviam vir para a rua com as suas máscaras fantasmagóricas, aplaudindo os feitores das desgraças todas em que fomos metidos. Assim como assim, no dia das bruxas festejam-se os horrores inteiros. Porque bruxas, bruxinhas e bruxonas há-as, femininas e masculinas (travestidas ou apenas em disfarce), no dia delas e nos outros trezentos e sessenta e cinco dias do ano (que este é bissexto).

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