31.12.12

Trinca espinhas


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(O Público pediu a uns peritos para darem palpites sobre a sociedade que aí vem em 2013. Este é o meu ato volitivo dando seguimento à demanda)
Apesar dos clamores da rua e dos partidos extremistas (e de umas fações extremistas de partidos habitualmente moderados), não será em 2013 que vamos dizer adeus à crise. Pode a receita estar mal confecionada, que pareceria lógico, se o governo fosse liberal, emagrecer o Estado para não emagrecer a população e as empresas. Lamento desmentir os habituais críticos, mas este governo não é liberal: aumentos de impostos são património genético do socialismo.
Por uns instantes, farei de conta que ando de braço dado com aqueles críticos. Em mantendo-se a austeridade, é o caminho acelerado para sermos um país em vias de subdesenvolvimento. Uma nova categoria, cunhada pelo andar dos tempos e pelas circunstâncias. Já conhecíamos países em vias de desenvolvimento, eufemismo simpático para denotar países pobres. Agora passam a figurar na escala os países que caminham para o seu próprio subdesenvolvimento. Ditado pelo empobrecimento das pessoas, porventura um desígnio incorporado por governos em funções.
Configure-se a sociedade em conformidade com as dores apocalípticas dos árbitros das conspirações. Daqui para a frente tudo na economia será comprimido à escala do minimalismo. Seremos todos trinca espinhas, condenados ao emagrecimento das posses e, por essa via, do consumo e do entesouramento. E por aí fora: as empresas também vão emagrecer à míngua de consumidores, libertando mais gente para o exército de desempregados. Com sucessivas repetições do ciclo. Talvez isto só venha a parar quando já não houver sociedade para contar a história às gerações vindouras. Estes sacrifícios impostos de fora para dentro, um autêntico entorse à soberania nacional, são um genocídio da portugalidade em geral e dos mais remediados em particular.
Todavia, o mau feitio não me deixa concordar com esta gesta tão clarividente e senhora dos seus imperativos categóricos. Pergunto-me, em jeito de balanço que é ao mesmo tempo figura de estilo deixada para o ano que aí vem, se o emagrecimento não é a cura necessária para anos a fio de deslumbramento para o qual não havia alicerces? Custa perder regalias, oh!, se custa. Mas talvez seja necessário para voltarmos a ser alguma coisa que não seja uma sociedade alienada e condenada a viver sob o penhor da maresia das ilusões.

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