24.6.13

Os matadores da andropausa


In http://spc.fotolog.com/photo/60/22/106/cres/1252945052522_f.jpg
Já era dia de frete. Ao almoço ia ter a companhia de duas personagens vindas da capital do país. Era minha função enturmá-los na cidade provinciana para onde vinham trabalhar. A falta de jeito para ser cicerone nas coisas alheias não me deixa à vontade. E a falta de jeito cavalga a galope porque não fui talhado para a conversa de ocasião que tem a vastidão do vazio.
Para acinzentar o cenário, os dois personagens de que fora convocado para ser cicerone tinham bazófia a rodos. Eram só façanhas, umas atrás das outras. Talvez fizesse parte de um guião para me impressionarem. E impressionaram. Pena tenho que não tivesse sido pelos melhores motivos. Já a sobremesa se aproximava, e os involuntários convidados se haviam desembaraçado da primeira garrafa de vinho tinto, passaram para o capítulo das proezas carnais. Era uma competição onde anotavam, das catacumbas da memória, as conquistas femininas que não conseguiam resistir ao seu imenso charme. O álcool, é sabido, liberta a língua e desembaraça as miragens.
A linguagem de caserna tomou conta do final do repasto. Limitado à condição de ouvinte, atónito, pois – pode-se dizer sem exagero – não os conhecia de lado nenhum para ser invadido por tanta intimidade, ia olhando para o relógio procurando apressar o fim da refeição que começava a ser indigesta. E lá continuavam eles, no marialva autoelogio de quem não deixava fora da rede qualquer rabo de saias que andasse por perto. Tudo aquilo era um repositório de memórias. E enquanto olhavam para mim, sem que eu entendesse se queriam um aceno de admiração pelas proezas ou se pretendiam reciprocidade na narração (pouca sorte teriam, que disso tenho modesto cadastro), apeteceu perguntar se aquele rosário de memórias não era um lenitivo pelos tempos áureos que, na sua idade, já não quadravam com as possibilidades físicas.
A andropausa deve ser um aborrecimento. Os pavões descaem em pueris atitudes. E vangloriam-se boçalmente sobre feitos que só as donzelas arrebanhadas poderiam confirmar se não se trata de pura imaginação. É que os cães que mais ladram são os que menos mordem.

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