26.9.13

Outono que te quero


In http://download.ultradownloads.com.br/wallpaper/163515_Papel-de-Parede-A-Chuva-Esta-Chegando_1600x1200.jpg
Encenam-se as primeiras chuvas. Dizem que o outono se faz anunciar. Estaria tudo certo, não fosse a tepidez a caldear as chuvas ora intermitentes, ora contínuas mas de fina espessura. Dizem que é o outono a espreitar no alfobre ainda tisnado pelo verão. Os mais desconfiados, fartos da estação que destila sol e calor ao fim de quatro meses que mais parecem seis, lembram que estas chuvas também são visita ocasional do verão.
Um lampejo de otimismo: que seja o outono. Abram-se as janelas ao outono, que o verão, teimoso e retardatário no seu envelhecimento, se demora. A carência é do outono. Pois o outono arquiva a preguiça estival. Os meses de curtas noites são, paradoxalmente, aqueles em que ao corpo menos apetece entregar-se aos labores. O calor torra os miolos, embacia o pensamento, estorva a ação. O verão é um longo hiato em que mesmo que não haja entrega ao ludismo, a preguiça açambarca o corpo e o pensamento. É um sequestro. Intimida os movimentos só de antecipar a liquefação do corpo transido pelo suor que escorre por ele abaixo.
O outono é um renascimento. Os serviçais do verão apressam-se a contrapor: o outono não é renascimento se a sua identidade é o acobreado das folhas caducas em seu definhamento até que, varridas pelos primeiros ventos pré-ciclónicos, dispam as árvores que foram suas hospedeiras. Um lugar comum do outono: é a estação da decadência, o adeus ao vistoso verão. Ungindo os corpos com o sabor árido dos elementos – o vento furioso, a chuva célere e soprada pelo vento ameno de sudeste, os primeiros frios matinais quando as janelas hasteadas acusam o orvalho do arrefecimento. Culmina o lugar comum: o cidadão médio despraz o outono.
Prouvera que os gostos não fossem dissemelhantes, e os lugares comuns fariam a vez de leis imperativas. Louvores à subjetividade que traz olhos diferentes a decantarem cores diferentes através do mesmo objeto observado. O verão enfastia, por tanto durar numa medida do tempo que o parece distorcer. E, se por mais não fosse, as estações na confluência desta latitude e longitude são equânimes: o calendário do ano divide-se pelas quatro estações. O equinócio de setembro chama o decesso do verão. O tempo espera-se outonal, em tirocínio do agressivo inverno.
É assim o outono: uma transição todavia suave, uma orquestração de cores singulares com cambiantes que fluem com o tempo em sua redoma passante. Uma viagem plural, não monótona.

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