30.9.13

Seis anos e um dia


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Seis anos. Valiam como seis meses. Era apenas uma recordação. Como as há reconfortantes e aquelas que infligem cicatrizes. Esta era apenas uma recordação. Às vezes parecia-lhe ambivalente. Outras apenas uma inutilidade, como se um acaso tivesse passado pelo calendário e teimasse em reverberar as feridas que abrira então.

Fora ontem, os seis anos sobre uma efeméride que não tinha importância alguma. Mas que teimava em ser efeméride. Podia ter sido um acidente que o deitara numa cama de hospital em prolongada convalescença. Mas não era. Podia ser um nascimento que se emoldurara a ouro pela relevância do nascituro. Mas também não era. Podia ser uma proeza profissional. O cadastro não caucionava tanta folga. Podia ser o adeus dos adeus de um familiar. Não havia pouco tempo que tais sucedidos tivessem desalavancado as lágrimas de tristeza. Já não sabia ao que vinha a efeméride que sublinhava a vermelho vivo o dia na agenda.

Foi aos arquivos. Porfiou e encontrou a agenda de há seis anos. Desfolhou as páginas até ao vigésimo nono dia de setembro que fora há seis anos. A página estava virgem. Nenhuma anotação. Meticuloso como era, não podia acreditar que o olvido da data tingisse a página de branco. Encontrou a agenda que viera no ano seguinte. Já lá constava "aniversário da efeméride". Não resultou grande ajuda. O dia em que transcorria o sexto aniversário da efeméride anónima passou em sobressalto. Perguntava-se, desafiando a memória, o que teria havido nesse enigmático dia. Não achou respostas convincentes.

Na alvorada seguinte lembrou-se da importância da data. Era o dia seguinte a seguir ao sexto aniversário de coisa alguma. O que importava não era o sexto aniversário do que não sabia ser motivo para o ser. O que importava era o dia que vinha a seguir. E o outro que se seguisse. E o terceiro que vindicava o sexto aniversário de coisa alguma. E por aí fora. Esse era o tempo com serventia.

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