3.9.13

Uma Hanna Montana espigadota


In http://diariodigital.sapo.pt/images_content/2013/miley-robinticke.jpg
(Não é a silly season contagiada ao pós-férias, pois se até o esteticamente insuspeito Nick Cave fala de Hanna Montana numa das suas músicas...)
A rapariga cresceu. Deixou de ser o ícone adolescente dos adolescentes. Que raio, tem o direito de crescer! E se nesse processo de crescimento, ao continuar artista com os olhos do mundo deitados sobre ela, se transfigurar numa lúbrica adolescente, quem a pode censurar?
Os habituais mercadores da moralidade, tão apressados a fazer julgamentos éticos dos outros (mas que são beijos envenenados a si mesmos), fizeram os também habituais pronunciamentos. A rapariga terá passado das marcas. As boas mentes aquietam-se: onde dantes havia um modelo de virtudes que os adolescentes seguiam, com aquele ar cândido aspergindo uma beatitude seráfica, há agora um corpo endemoninhado que insinua sexo, ou pornografia para os mais indignados. O que talvez não ocorra aos patriarcas e às matriarcas da moralidade é que também eles e elas tiveram a sua tenra juventude que foi algures adulterada pelos prazeres carnais.
As pessoas crescem. Os adolescentes também. E se a liberdade ainda for um direito, quem pode subir a um pedestal para lavrar sentenças sobre comportamentos que não são seus? Se calhar, esses arautos da pureza nunca viram pornografia, nem sequer tiveram desejos que escorregam para a carnalidade. Que a consciência seja o único confessor destes – como dizer, em linguagem que seja entendida pelos patriarcas e matriarcas da moralidade? – pecadilhos, é matéria que não diz respeito a mais ninguém. Justamente. A mais ninguém. Houvesse capacidade para não aplicar aos outros o que não admitem que seja seu libelo acusatório, a transfiguração artística da Hanna Montana nem sequer um rodapé nas notícias dava.
A menina desabrochou e, a julgar pela pose provocadora, terá gostado de experimentar a volúpia. Os julgadores dos comportamentos dos outros deviam estar calados, pois a volúpia alheia não lhes diz respeito. Se lhes fosse dado a alcançar um naco de lucidez, talvez percebessem que a pose provocadora, sugestiva nas insinuações carnais, pode não passar disso mesmo: pose e nada mais que pose, só para cativar atenções e vender discos.
(Nunca julguei defender a Hanna Montana. A adversidade estética continua, todavia. E se até Nick Cave escreveu uma música que fala de Hanna Montana...)

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