7.11.13

Política em modo folclórico

In http://marreta.files.wordpress.com/2010/02/gargalhada.jpg?w=520
Agora é de vez – e não apenas em sonhos, ou quando julgamos que a vontade é tão insubmissa que consegue dobrar o braço à realidade: uma data é quando um homem quiser. Sobretudo se for mandante e decretar, com a solenidade dos decretos, que uma data não é quando aparece no calendário, mas quando apetece ao mandante.
Foi na Venezuela, agora comandada pelo delfim do defunto ditador populista. Chama-se Maduro, confirmando-se que não esté verde para a função. Há dias, embebido de uma epifania, Maduro mandou rasgar os calendários, que ele tinha decidido que o natal se comemorava no primeiro de novembro. Eu acho bem. Este relativismo do tempo merece todos os encómios. Torcer o tempo aproveita a quem com ele mal se amanha – dirão os madraços costumeiros. Mas não é que a voz popular (que tanto – dizem – ordena na imensa democracia que existe na Venezuela) que manda sentenciar que natal é quando um homem quiser? Maduro, o grande ensinador da democracia, porta-voz do povo, corporizou a voz popular e arrepiou caminho através das trevas do calendário. As gentes desesperavam pelo natal. Faça-se natal fora do tempo, ou determine-se que o tempo do natal é quando aprouver ao grande líder em simples testemunho da vontade popular.
As convenções são para os conservadores que não se desprendem das baias do bafio. Às convenções pertencem os calendários. Quem quer uma medida exata do tempo se não aqueles que não se importam de viver aprisionados pela tirania das convenções vertidas em calendários? Louvemos, pois, o grande líder da Venezuela, que reinventou o tempo e fez o favor de nos desfazermos dos calendários que dantes eram a caução do tempo apoderado pelas convenções maniqueístas. Ainda ninguém o disse, mas depreende-se do decreto presidencial de Maduro: o calendário é uma punição do capitalismo.
Da mesma igualha das efemérides itinerantes, só uma virgindade que se vende. Não uma, mas duas vezes. Quem disse que a virgindade se perde de vez quando dela alguém de despoja, deve ser acusado de inqualificável abjeção que ultraja o relativismo das coisas. A virgindade, tal como as datas, só depende da vontade de quem as ostenta. A verticalidade obriga-nos a esquadrinhar muito além dos contrafortes do que julgamos ser a realidade. Porque a realidade está, algures, numa dimensão vertical.
Eu, por exemplo, decreto, em jura solene, que estou na virescência dos meus vinte e quatro anos.

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