14.1.14

Capicua da alma

In http://indeiscente.files.wordpress.com/2008/05/yin-yang.png
Deveis haver vindicado a fortaleza maior para as vossas almas. Deveis perseguido as inditosas marés que traziam a maresia assassina, derrotando-as com o implacável gládio. Virai o fácies para de onde sopra o vento, o mesmo lado onde encontrais o sol que empresta a tez soalheira ao tempo que vive. Sabeis que não há utilidade na espera de um vulto sebastiânico enquanto engolfais os rudimentos do precipício coletivo (a aura de um sebastianismo que é desesperança seminal).
Olhai o sol refrescado pelo vento invernal. Admirai os prados vicejantes, prova do inverno caldeado pela copiosa chuva. Esquecei as preces às divindades que são o sucedâneo de figuras sebastiânicas que povoam o imaginário. Das sebastiânicas figuras sem serventia. Esquadrinhai o que de mais recomendável habita em vós. Que todos somos um manancial de estimáveis atributos, mesmo aqueles que, em demanda da auto comiseração, acheis que não.
Sabereis, então, que há uma alma gémea. Ou, em o não sendo, que se abeira da gémea condição. Sabei que este lugar não se acomoda à tirania do perene ermo que vos julgais. O tirocínio é empreitada árdua – que fiqueis prevenidos. A capicua das almas carece do encaixe das duas metades. Às vezes, as arestas brutas são obstáculo que amedronta. Depois vem a vontade que dominar: ou capitulais, convencidos que as arestas não podem ser polidas; ou perseverais, pois a indomável forma do mundo, de par com a simplicidade dos desafios que parecem invencíveis, de vós farão tutores do vosso fado. Até que, no despontar de uma alvorada promissora, haveis de descobrir como as duas metades se completam. As duas metades que pareciam inversos e que, feitas capicua, se replicam uma à outra.
Amansam-se as águas. Os pássaros soltam-se dos ninhos que foram seu esconderijo. Ao sairdes à rua, vede como os mortais que convosco se cruzam sorriem na melhor simplicidade dos sorrisos lhanos. Vede com as mãos parecem aveludadas. Ou como deixam de o parecer e passam a ser assim entronizadas. Senti como palpitam em uníssono corações que eram descompassados. Reconfortai-vos no calor de uma lareira que crepita para afugentar o gélido inverno das almas.
Senti-vos. Do mais alto promontório onde imperadores dos vossos sentidos sois. Havereis de julgar que as noites são intermináveis, sem que o sono reclame seu património. Havereis de olhar as coisas como julgáveis impossível. Com as mãos entrelaçadas, sentindo do outro o latejar do sangue nas veias, sereis um só. Ou a metáfora da capicua que se encastoa.

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