23.1.14

Finding the sea

In http://www.youtube.com/watch?v=GiIHele1rTE
E então veio o mar. Para levar as páginas já amarelecidas.
A janela espreita a maresia que se insinua nos seus poros. A janela espevita os olhos que nela espreitam, abraçando as ondas que do mar vêm beijar a areia. E podem os olhos virar as costas ao mar que ele continua durável, na maresia que se incrusta nos sentidos, nas ondas que se desfazem no areal molhado.
Veio das montanhas, onde há precipícios abruptos e o vento morde com a fúria de um chacal, onde as brandas escondem feitiços que amarelecem as páginas de um livro gasto, onde o silêncio é imperador e transforma o tempo numa medida perene. As montanhas, com seu chão pedregoso e o alcantilado que amedronta, foram um exílio. Solidão como cura. Como se as pedras pontiagudas, restolho da severidade da paisagem, fossem pastoreadas pela vigilância de uns olhos de insónia, cura dos estilhaços que alguma vez se abateram locupletando o andamento do tempo. Às tantas, o exílio teve seu epílogo. Os cantos das sereias banhando-se no longínquo mar ecoavam nas entranhas da serrania. Eram um apelo irrecusável. E nem a tanta distância aplacava a maresia que subia os montes e descia aos vales, começando novo alpinismo até se despenhar no profundo vale onde arrimava nas tumultuosas águas de um rio juvenil, e assim sucessivamente. Até à maresia sussurrar ao solitário pastor exilado nas brandas, convocando o seu regresso.
Era a hora de emalar os pertences e retornar à pertença do mar. Não precisava de mapas, nem de mnemónicas interiores que silvassem constantemente o caminho acertado, de cada vez que um demónio prometesse engodos ao chegar a uma encruzilhada. Era o chamamento do mar. Por mais longe que estivesse, mesmo que o exílio fosse na maior equidistância do mar de que há conhecimento, faria como as andorinhas que voam e voam sem se perderem na sua transumância. Não eram precisas bússolas, nem artimanhas outras que curassem de indicar a localização. O mar era íman sem freio.
O mar, que o trouxe de volta ao quadro onde a moldura era o sortilégio das ondas que se desfaziam no areal molhado. E a maresia, poema eterno.

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