31.3.14

Telhados de vidro

In http://vamosconstruir.com/wp-content/gallery/casa-com-telhado-de-vidro/casa-com-telhado-de-vidro-4.jpg
(Lição de anti-moral número sete, contagem aleatória)
Cuidado – advertem os cautelosos. Cuidado com os telhados de vidro que sobre nós se podem abater. Mal compreendem que as vidraças que encimam o teto podem começar por se esboroar por eles próprios, ou hão de julgar que há gente imaculada?
Eis a retórica do amedrontamento: é melhor guardarmos as invetivas para dentro, não vão sobrar destroços que nos amarguram a boca. Quem o adverte dá a entender que sabe de assuntos de que pouca gente travou conhecimento. Mantêm afilada a espada ameaçadora, que podem desembainhar se não nos dermos ao recato. Às vezes é o jogo do bluff. De outras vezes, é como se uma agência de serviços secretos esquadrinhasse os detalhes que pertencem à intimidade de cada um. Só pelo gozo de serem intrusos. Só pelo prazer de devassarem a vida alheia e encontrarem matéria apodrecida que se pode jogar contra quem a deixou apodrecer dentro de si.
Os telhados de vidro não importam. Não são eles a matéria pútrida. Ao menos os telhados que são de vidro exalam uma transparência. Pode não ser recomendável, mas quem é quem para julgar os outros? Podem os julgadores de telhados de vidro dizer que nidificam nesta transparência? O erro reside em quem esbraceja fantasmas que se alojam nos interstícios dos telhados de vidro. E não, a matéria bolorenta não são sequer esses fantasmas que assustam consciências que são por eles locupletadas; o bolor encontra-se nos famintos presbíteros da moralidade que nem percebem a vilania de esvoaçarem os podres de outrem.
Mas, assim como assim, qualquer moralidade é rançosa. Quer a que se enamora da vilipendiada exibição dos telhados de vidro que deixam os seus possuidores em carne viva. Quer a moralidade dos que depois reclamam defesa de honra, não se satisfazendo com a patente indecência dos que apontam para telhados de vidro e, ato contínuo, esboçam lições de contra moral que são um rosário diferente de entoar uma, outra, moralidade.
Se calhar, a moralidade devia ser banida do léxico.

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