11.4.14

Deixai o reumático orar

In http://sol.sapo.pt/storage/Sol/2012/big/ng1225641_435x190.jpg?type=big
(Com respeito pela memória dos retratados que já não figuram entre os vivos)
Os políticos que mandam não percebem o ridículo em que se enredam por temerem que a brigada do reumático vá ao parlamento dizer coisas feias sobre o que andam a fazer (ou a desfazer). Eu digo que esta classe política vive assombrada por fantasmas de estimação. Mas se os “capitães de abril” sobreviventes são os fantasmas, mais valia aos políticos mandantes sacar o revólver do coldre e disparar em cheio em ambos os pés.
Qual é o mal que vem ao mundo se a brigada do reumático quiser botar faladura no parlamento quando forem as celebrações do quadragésimo aniversário da revolução de que se dizem, os capitães de abril, penhores exclusivos? Não se lhes conhece obra, nem pergaminhos intelectuais que assustem um adversário. Porventura teme-se que os militares entreteçam palavras ásperas para o atual estado das coisas. E que venham protestar contra os danos que governos sucessivos fizeram às “conquistas de abril” e ao “espírito” respetivo, fazendo recair a sua ira no governo do momento (por ser do momento; e por ser considerado o maior culpado na traição a abril). Na senda, aliás, de um numeroso escol de intelectuais ou não tanto, com o Pacheco como inevitável farol inspirador, que já não insinuam, dizem-no às claras: o medo que por aí grassa não é diferente da censura que a ditadura zelosamente praticava. Saia, pois, um módico de tino no pensamento, para não ofenderem quem foi vítima da censura de outrora e não enganarem os incautos do tempo presente.
Eu gostava que os “capitães de abril” perorassem no parlamento. Admito que seria uma galhofa, entre pontapés na gramática e zoeiras argumentativas. Por uma vez (ou outra vez mais, depende da forma de ver), o parlamento seria um circo na verdadeira aceção da palavra. E se estamos deprimidos: ele é a crise que nunca mais vai embora, ele é a democracia que sofre entorses todos os dias, ele é a tristeza de ver os mais jovens demandarem a emigração, ele é uma “elite” (propositadamente grafada) que se entronizou nata dos atores políticos do momento. Isto é tudo tão indigente que a melancolia e a desesperança tomaram conta do horizonte. Precisamos de rir, um riso aberto que faça parecer que a boca vai de um canto ao outro do rosto. Precisamos de gargalhadas, sonoras e demoradas.
Deixai, pois, a brigada do reumático subir à tribuna e fazer uso da oratória.

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