9.6.14

A cabeça de Marx servida ao almoço

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A luta de classes, ai, a luta de classes. Os malvados capitalistas que, se pudessem, se alimentavam de operários frágeis, num obsceno festim com meretrizes à mistura. Se eles pudessem, deixavam a escravidão como único destino dos operários. Não os deixavam instruir-se. Não deixavam que os letrados insubmissos fossem para a universidade e estudassem Marx, pois são eles que incomodam a ordem vigente e a harmonia que os malvados capitalistas sonham obter.
À míngua. Era o que os capitalistas sem piedade queriam como condição inata dos operários. Todos somos operários, para tal bastando que não sejamos detentores do capital. Operários, todos: desde os que não têm instrução, até aos que a têm em dose excessiva. E como alguns iluminados continuam fiéis à ingénua crença da repetição da história, que este seja o momento de ruptura. Pois se tanto recuamos nas conquistas sociais, se há governos farsantes que mais parecem testas-de-ferro dos nefandos capitalistas, resgatemos Marx das empoeiradas estantes, que venha a sua doutrina embelezar as ruas de protesto. Como mnemónica, ponhamos um busto de Marx à mesinha de cabeceira, deixemos de lado a bíblia que fermenta o ópio dos desvalidos e os desaconselha da ação violenta, substituída a bíblia pela nova bíblia que nunca teve tanta atualidade: o “Capital”, de Marx (e Engels). Os passe-partout com iconografia familiar, um bastião do individualismo disfarçado, devem ser arquivados para darem lugar a quadros e bustos de Marx. Para Marx não sair da memória, agora que ele é tão urgente na mudança de que o povo unido deve ser arquiteto.
Os repastos, também na companhia de um busto de Marx. Enquanto os amesendados saciam a fome, que congeminem a revolta em ebulição. Que não meçam a ação pelos pruridos da não violência, que os mandantes em parceria com os capitalistas praticam sobre a imensa e silenciosa maioria a pior das violências, uma soez e também silenciosa violência que promete mais pobreza. Pois imersos na pobreza serão vulneráveis, um fogo fátuo que se incinera na ganância dos ricos, dos muito ricos que querem ainda mais abastança nem que ela signifique o sacrifício de tanta gente a uma pobreza ignóbil.
Marx é a reincarnação de Cristo. Que os operários de todas as condições não caiam no engodo da retórica ao serviço dos interesses dominantes: Marx não é, de maneira alguma, uma representação totalitária. Não se deixem enganar quando vos dizem que os imperativos da revolução e o decaimento dos interesses de cada um são a absorção da vontade individual. A menos que queriam deixar a vontade individual sobrepor-se ao destino de um povo inteiro que, a cada dia que passa, não se insubordina e fica à mercê de gente sem escrúpulos. Essa sim, concordaria Marx, é a maior das aleivosias.
Por isso convençam-se: a história é como as marés, vai e vem e, quando volta, traz-nos a mesma água; e Marx devia ser beatificado.

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