28.7.14

Profissão de risco: banqueiro

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Isto já não é o que era dantes. O “DDT” – “Dono Disto Tudo”, como o rosto do BES gostava de se chamar a si próprio – pagou uma caução de três milhões de euros para não ficar na prisão à espera de julgamento. Algumas vozes oraculares asseguram que isto é tão tonitruante como uma mudança de regime. Não vou no exagero, para não misturar dois domínios que deviam andar sempre separados (mas não andam): política e economia.
Primeiro: ser banqueiro tornou-se uma profissão de risco. Por todo o lado. Há banqueiros bem colocados que caíram em desgraça. Uns, arruinados. Do mal o menos, pois outros houve que deram com os ossos na cadeia. Os desconfiados dirão que banqueiros destes amealharam muito ao longo do seu longo magistério. Não merecem condescendência. Um houve, protegido do guru da economia e finanças que um dia viu confirmado o sonho de ser presidente da república, que tão mal se portou que não se livrou da prisão, nem nos livrou, pagadores de impostos, de pagarmos todos os anos um quinhão da fatura. Outro não fez jus ao nome: dizia-se rendeiro, o que rende e faz render, mas não soube puxar os galões ao epíteto e estatelou-se na falência. O mais recente agraciado com a desgraça nem com uma mãozinha do Espírito Santo pôde contar (o que daria pano para mangas se a conversa se desviasse para assuntos de metafísica).
Segundo: afinal não se cumpre a maledicência dos que, da esquerda para a esquerda, juram a pés juntos que os senhores da alta finança são um Estado dentro do Estado, com avultadas regalias do mundo da política, tratando a justiça com sobranceria, sabendo que a justiça não os atinge com a sua luva sargaceira. Às vezes há motivos para esfregar o brilho da esperança: a justiça tarda, é lenta, mas faz o seu caminho. Ditando para a ata que a justiça é dona de um galho que não é invadido por políticos e senhores da alta finança. É nestas alturas que os putativos DDT ficam com um tremendo amargo de boca.
Terceiro: tão mal andam os banqueiros, com a honra enxovalhada, desapossados de parte importante da sua abastança, correndo o risco de serem insultados se meterem um pé à rua, que era a hora dos habituais tutores dos desprotegidos desembainharem a espada em sua defesa. Teria dois méritos, a ideia. À uma, veríamos os da esquerda para a esquerda desviarem as suas justiceiras causas para um alvo insólito. O inesperado é das melhores recompensas que o porvir semeia para memória futura. Por outro lado, os da esquerda para a esquerda perdem um inimigo de estimação. Ainda restam outros banqueiros para o abate seletivo, até que um dia os bancos sejam (assim sonham) todos nacionalizados e os da esquerda para a esquerda exultem, excitados. Enquanto o nirvana não vem, deviam acolher em seu regaço os banqueiros caídos em desgraça. Pois não é a esquerda, do centro para a extrema dela, que se ufana de proteger os desvalidos?

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