15.9.14

O angariador de votos

In http://aventadores.files.wordpress.com/2013/09/pocilga.jpg
E se, na empresa onde trabalhas, andasse um indivíduo do aparelho socialista a educar, insistentemente, os colegas de trabalho para se inscreverem como simpatizantes nas eleições diretas que a seita vai fazer? E se, na empresa onde trabalhas, essa pessoa tivesse o topete de convencer o voto num dos camaradas em compita? E se, na empresa onde trabalhas, o capataz do aparelho tirasse da manga um trunfo sórdido ao assustar os colegas de trabalho com a perda do emprego se não lhe fizerem a vontade?
Não é na América Latina. É com o PS de Portugal. É numa empresa em Portugal. Talvez o militante esteja habituado ao baixo caciquismo do partido dele. Talvez: pois se até mortos têm as quotas de militante atualizadas, o impossível deixou de ser impossível. Mas é neste Portugal latino-americanizado que uns agiotas de ideias acham legítimo vir para o trabalho fazer propaganda eleitoral. Só de si, já era lamentável. O diagnóstico piora quando o safardana morde nas canelas dos colegas, persistente que é, para irem ao sítio da Internet da agremiação e se inscreverem como simpatizantes, à força. Se vem um não como resposta, devia sobrar a vergonha do trauliteiro e meter a viola no saco. Mas não. Insiste. Talvez acreditando que a melhor tática é vencer os relutantes pelo cansaço.
Porventura não faz parte da civilização (que julgamos ser) o respeito pela liberdade de escolha. Quando o angariador de votos peregrina, incansável, a tentar convencer os outros, mostra a cepa de que é feito: intolerância pura, que se alimenta da falta de respeito pela intimidade dos outros. Porque há quem, candidato a eleições ou assumido militante de uma agremiação que procura votos, não faça questão de esconder a sua escolha. Estão no seu direito. Tal como o estão aqueles que guardam para a mesa de voto o segredo da escolha. A liberdade de escolha merece o respeito que sequazes como este não percebem. Não faz parte do seu código genético. Pobre democracia, que arrastas os teus ossos por esta decadência.
Até hoje não fui vítima deste assédio eleitoral. Não sei se é por ser público o meu ódio de estimação (as palavras foram bem ponderadas antes de serem escritas) à seita socialista. Ou se é de, a uns dias da grande festa eleitoral, estarem inscritos cento e cinquenta mil “simpatizantes” – um magro um e meio por cento dos eleitores, fraco desempenho para quem está em pulgas para voltar a pôr as patas no ouro do poder. Só sei que talvez, pela primeira vez, vá engolir um sapo de todo o tamanho. E vote na coligação do mau governo que é o do momento. Como se fosse um voto com os pés em sentido invertido: para evitar que os que se babam pelo poder lhe deitem a mão. Entre um que é mau e outro que é ainda pior, pode ser necessário fazer uma escolha. Mesmo que seja contrariada.

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