29.9.14

O Quixote que há nós

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Os (mais) jovens vivem com os pés em cima de um chão de idealismo. Sonham que conseguem ser mudança. No seu diagnóstico das coisas, ainda não há lugar para paredes pintadas a negro nem para batistérios do pessimismo.
Sabem que há coisas que não quadram com a sua perfeição das mesmas. Acreditam que o tempo vindouro pode trazer um ar mais respirável e que as alvoradas serão cachos de uvas tão doces como não há memória. Acreditam que são fator da mudança. Que vão dobrar a asa aos elementos em que medra a inércia, a engrenagem enferrujada que só serve para manter o que se conhece, mesmo que o que se conhece esteja preenchido por vícios estultos. Os (mais) jovens, ainda imberbes, julgam que podem ser Quixotes em causa própria. Que neles se agigantam as forças perenes que têm o condão de derrotar as que se lhes opõem, as forças conservadoras que só querem o estado conhecido por receio do que vier em sua substituição.
E lá vão eles, embebidos em pueril idealismo, convencidos que sozinhos chegam para derrotar as forças cósmicas que deixaram legado no estado das coisas que se conhece. Enquanto estiverem ungidos de ingenuidade, nada os demove. A mudança pode tardar, mas pelo seu punho terá um tempo presente. São fiéis depositários das forças brutas da bondade. Os ventos terçados em sentido contrário são parados quando montam seus cavalos alados e, de espada em punho, despedaçam os ventos que alisam a sementeira da perenidade das coisas que há. A caminho de despedaçarem a servidão que há, enamoram-se por Dulcineias que são feras implacáveis. Desgostam-se, mas não perdem as certezas sobre a bonomia do porvir.
O tempo tratará de os desenganar. Um dia haverá em que sentirão que estiveram este tempo todo à espera de Godot.

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