27.2.15

O ouro da Acrópole (conto infantil)

Hanni El Khatib, “Dead Wrong” (Live on KEXP), in https://www.youtube.com/watch?v=K18hUPe5DAk
(Às criancinhas, em exercício pedagógico a que não devem dar crédito.)
Olhai, ó vós que estais em aprendizagem da vida: ter a mania das grandezas não é pecado. É grandeza. Ambição. Forma de vida. É saber estar a par da corrente, fazendo de vós esteios do materialismo. Não ligais aos sacerdotes da boa moral quando apregoam que são os valores da alma que mais contam, pois essas sumidades dão cobertura aos destravados que querem estar três patamares acima do que podem.
Haverá fatura a pagar – advertem uns quantos. Mas não deixeis o sono embaciar-se. À míngua de réditos, a torneira do crédito está à espreita na esquina mais próxima. Haverá forma de saciar devaneios. E de serem como são os petizes mais abastados: podem usar as mesmas roupas de marca, ter os mesmos brinquedos dispendiosos, conviver com os meninos ricos, ir de férias para os mesmos lugares (massajando a mais pura democracia das coisas). O caminho é feito a olhar para a frente. Para a frente não é preciso fazer contas.
Se um dia chegar em que os que emprestaram metálico vierem bater à vossa porta de braço dado com um cobrador de fraque, não entrem em pânico. Digam que não podem pagar. Dramatizem a cena: por não poderem pagar, exijam que seja perdoada uma fatia do que veio dos bolsos dos outros. Contestem a ganância de quem vos bate à porta de mão estendida. Diabolizem quem vos financiou loucuras materialistas: jurem que foram obrigados a receber financiamento, que vocês nem queriam deitar a mão a tanta massa fácil. Dramatizem ainda mais a cena: provem que outros houve, agora credores, que no passado foram indultados na calote que tinham. Esqueçam-se de avisar que as diferentes eras são incomparáveis. Ato contínuo, subam na escada do circo dramático: conspurquem os abastados que foram vosso suprimento no passado, resgatem as datadas teorias que põem as classes umas contra as outras, agora vocês, petizes gastadores, contra os da moral rançosa que contam os tostões todos e rapam meticulosamente tudo do fundo do tacho.
Aprendam: o hedonismo está para os primeiros, não para os segundos. E, assim como assim, os da moral rançosa fazem fortuna às custas dos iludidos pelo vil metal. Que coisa ignóbil!

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