14.9.15

Figurões, figurinhas & outros que tais

Benjamim, “Os teus passos”, in https://www.youtube.com/watch?v=HMASO_v5hXQ
Será tentador, numa espécie de fascismo social às arrecuas, escrever prosa crítica sobre os arrivistas e os senhores do palco social que vêm para a rua conviver com os anónimos, quando a cidade e uma empresa de telecomunicações organizam o segundo S. João da cidade.
Diriam os insuspeitos guardadores da decência, os que vituperam a obsolescência frívola dos campeões das revistas cor-de-rosa: deixem-se estar em casa, não se misturem com a maralha numa festa que, por ser popular, é feita para a maralha. Os ativistas das patrulhas de bons costumes afiançam que os figurões, figurinhas e outros que tais não pertencem aos bons costumes. Como casta em que fazem questão de se reconhecer, não deviam vir à rua nestas noites de festa popular, pois correm o risco de conspurcar as suas apessoadas fatiotas com o suor fétido da populaça. Os figurões e seus discípulos não são filhos da rua. O seu lugar genético são os grandes salões, os restaurantes onde se paga a peso de ouro, os bailes onde fazem debutar as virginais (ou já não) filhas, os clubes de golfe onde ostentam o tweed e competem pelo handicap, as galas de beneficência onde, contra cheque gordo, “aparecem” na nata social, os colégios de fina estirpe onde metem a descendência. Assim como assim, cada espécime precisa de um habitat próprio para prosperar, uma casa onde se sintam em casa.
Tenho para mim, que não frequento os lugares acima exemplificados e que tenho uma certa náusea pela autoproclamada casta social, que aqueles lugares têm mesmo de existir e que faz todo o sentido ser apertada a regra de admissão. Já não entendo (a não ser em pura manifestação de contra-fascismo social, que não deixa de ser fascismo social) que alguns dogmáticos sonhem, e outros verbalizem, a extinção dos lugares onde a nata social nidifica, sendo seu sonho molhado a extinção dos figurões, figurinhas e outros aspirantes às mencionadas categorias.
Dou como exemplo o segundo S. João na cidade. É um prazer vê-los, dos de mais tenra idade aos mais vetustos que ainda fazem uma perninha no evento, debandarem para outro lugar mal uma banda de música que vem de fora do circuito comercial dedilha os primeiros acordes em concerto para todos. Ou como as dondocas parecem entrar em apneia em ruas apinhadas, com o seu ar deliciosamente enjoado, quando se sentem sardinhas enlatadas e entram em pânico só de sentirem o contacto com as roupas suadas, às vezes andrajosas, dos que lhes caem em rifa e, ato contínuo, fogem em debandada para lugares mais arejados.
Tirar este prazer, isso sim, seria antidemocrático.

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