12.1.16

Os homens da latrina

PZ + DB, “Tu és a minha gaja”, in https://www.youtube.com/watch?v=u4bSvzArdGI
Um restaurante congemina uma campanha publicitária. O mais que consegue é uma fotografia de um naco de carne de vaca para a comparar com uma atriz de filmes pornográficos. Ou seja: a atriz, por pertencer a um métier que torna imperativo aquilo que os “bons costumes” chamam promiscuidade, leva com o rótulo de “vaca” – no que “vaca”, em linguagem figurada, tem de pejorativo, por associação àquelas mulheres “fáceis” que têm sexo com muitos homens.
À boa maneira marialva, no que o marialvismo tem de atavicamente misógino, este é um padrão de comportamento que descreve uma subespécie (para não dizer subproduto) do sexo masculino: o varão viril que coisifica as mulheres, despreza-as como seres fracos na escala humana e aproveita-se egoisticamente delas para terçar seus carnais deleites. O ser brutificado que conta anedotas sobre “gajas”, sendo as “gajas” um produto de óbvio consumo e, por via de regra, três degraus abaixo “deles” na escala da inteligência. O brutamontes que alardeia proezas, quer as que resultam do galanteio e que caucionam um numeroso rol de mulheres conquistadas, quer as do exercício do ato sexual.
(E isto sempre me fez espécie, pois quem não tem dúvidas dos seus pergaminhos não precisa de os publicitar em jeito ufano; o que alimenta uma tirada certeira: os “reis do sexo”, que por aí se gabam de o serem, devem ter graves problemas na função.)
O mal é que, a subespécie do marialva-matarruano-misógino é copiosa. E corta transversalmente gerações, como se fosse uma coisa que se herda no património genético. Estes espécimes têm graves problemas para se situarem perante o mundo e, é caso para o dizer, perante si mesmos. Prolongam para o presente o atavismo ancestral da desigualdade de sexos – outro opróbrio que se lhes imputa, por serem responsáveis por uma doença da modernidade: a discriminação positiva para restaurar direitos das mulheres.
Continuam formatados para as diferenças. Por exemplo: se uma atriz pornográfica, ou uma mulher que o não seja, troca de parceiro sexual com abundância, é galdéria, puta, mulher de má vida, mulher pouco recomendável. (E, todavia, aposto que estes marialvas de pacotilha não enjeitariam uns instantes de sexo com uma destas mulheres.); se um homenzarrão troca de parceira sexual com a mesma abundância, é motivo de orgulho – para o dito cujo e para outros como ele, que exprimem uma das mais atrasadas mentais formas de solidariedade: a solidariedade masculina (como se as proezas de um fossem sentidas pelos outros). Se uma atriz pornográfica entra num jogo sexual com dois homens, é uma depravada; se um marialva de parcos neurónios pratica o ato com duas mulheres ao mesmo tempo, é um herói.
Não é exagero dizer que há um “pensamento” (se é que assim se pode chamar) expelido pelo mesmo lado que nos faz falar de escatológicas coisas. É o caso da mundividência destes marialvas.

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