27.6.16

Já todos fomos rapazolas

Joy Division, “Decades”, in https://www.youtube.com/watch?v=w2mKRjPHUNg
Somos de fraca memória: passamos por uma pandilha de rapazolas, os ditos em algazarra a condizer com as hormonas ferventes; ouvimo-los arrotar umas inanidades, e atribuímos um módico da lucidez como apanágio dos estroinas. Asneiam – e depois? Não é a idade certa para asnear? Não é a idade certa para afugentar as existenciais preocupações que venham a ser o pleito onde se jogam as consumições quando derem um salto no tempo?
E, depois, quando acenamos em ar de reprovação ao passarmos pelos estarolas, não cuidamos da memória que resgate a adolescência por onde também andámos. Alguém acredita que não fomos rapazolas como estes, talvez com diferente meneares, diferente linguajar (mas, ainda assim, um linguajar), mas com a mesma brutidão, a mesma atração frenética pelo sexo oposto, com frivolidades talvez de diferente estalão em virtude dos tempos que mudaram, a mesma apetência pelo hedonismo?
Hoje que somos adultos e já temos idade para levar em conta um módico de responsabilidade pelo que vamos deixar às gerações vindouras, temos de olhar para os rapazolas e pensar no porvir em que vão medrar. E se não formos capazes de dissolver o desânimo a adejar sobre os ombros desta geração, não devemos ser parciais quando uns estroinas esgrouviados andarem pela rua, em perfeita açougada, disparatando contra as suas próprias pessoas. Deixemo-los serem agora estarolas, que sabemos (por conta das nuvens plúmbeas que não se desalojam do céu onde vem o seu porvir) que não são benignos os amanhãs que lhes estão prometidos. Devemos poupá-los ao esbracejar dos hediondos fantasmas que por cá andam e que não prometem ser derrotados pelo tempo depois.
Deixemos os rapazolas serem doidivanas como puderem. Deixemo-los atirar os piropos às raparigas de faixa etária afim (que elas também precisam de alimentar as hormonas). Deixemos que as frivolidades sejam seu nutriente. Deixemo-los trautear a melodia do hedonismo. Nunca fez mal a ninguém varrer o lixo para debaixo do tapete e esperar que o tempo depois seja mais condescendente. Nem que seja por efeitos de uma quimérica surpresa.

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