19.1.17

Gavetas


Shit Robot, “Losing My Patience”, in https://www.youtube.com/watch?v=XSzRE5_u02M    
A organização da alma: não misturar coisas que pertencem a categorias diferentes. Para prevenir contaminações a categorias que as dispensam. Arranjem-se as gavetas necessárias para a correspondência de categorias. Isolando as gavetas, para impedir possíveis infiltrações entre categorias e, desse modo, possíveis contaminações feitas por agentes corrosivos.
Duas empreitadas prévias não podem ser esquecidas. Primeiro: saber onde arranjar as gavetas que tenham serventia. É preciso escolher o material em que serão confecionadas. Saber de que tamanho devem ter. Se esta empreitada não for cuidada, as gavetas podem ser imprestáveis para isolar os materiais que carecem de arrumação em categorias diferentes e, por isso, devem ser remetidos a gavetas diferentes. Há quem despreze o valor destas coisas, julgadas meramente processuais. É um erro: se o palco montado for de uma fragilidade confrangedora, os atores torpeçam nas ripas mal pregadas e a função ressente-se.
Segundo: é preciso arranjar critério para arrumar as coisas nas devidas categorias. É preciso saber sopesar as diferentes cores que se instalam por dentro da alma, separá-las a preceito, saber as que são rivais e devem estar a léguas de distância. É preciso ser juiz adestrado para conseguir estimar as categorias todas. Se houver um erro de cálculo, corre-se o risco da desordenação (com a agravante de o ordenador estar convencido do mérito da intervenção, sem dar conta do caos em que fermentam as coisas deste modo). Ergue-se uma cortina de espelhos e tudo aparece com uma imagem distorcida. O mais certo é haver contaminações. Agentes agressores, que deviam estar confinados a gavetas especialmente herméticas, são metidos na mesma gaveta com agentes puros. Os agentes agressores vencem o pleito sem o tempo dar conta. Os agentes puros perdem a pureza mercê da ação punitiva, expostos como estão.
O risco do malogro das gavetas não é de somenos importância. A confusão em que se mete a existência transporta o caos instalado. Só que tanta arrumação zelosamente industriada pode ser espúria. Em vez de alcançar a ordem, é merecedora de um caos por dentro do caos (por mais que as gavetas instruídas intuam o oposto).

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