Faz amanhã uma semana. A selecção portuguesa jogava em Riga, capital da Letónia, já há quase uma hora. De repente o insólito aconteceu, com a entrada no relvado de uma jovem letã que apenas trazia em cima do corpo uma cuecas vermelhas e uma meias até ao joelho da mesma cor. Ensaiou uma coreografia desordenada pelo meio dos jogadores que assistiam com um misto de estupefacção e embevecimento.
Em ocasiões anteriores, quando espectadores masculinos saltam para o terreno de jogo são logo cercados pelos seguranças que não hesitam em recorrer à brutalidade para os manietarem. Ali aconteceu tudo ao contrário. A menina esteve, impávida, durante longos segundos sem que ninguém ousasse abordá-la. Dir-se-ia que os seguranças se intimidaram perante tal quadro surpreendente. Quando finalmente um polícia se acercou dela, pegou-lhe delicadamente pelo pulso e encaminhou-a, também com delicadeza, para o exterior. Eis uma manifestação da desigualdade de sexos favorável às mulheres: quando os invasores são homens jorra toda a brutalidade da polícia; a delicadeza é palavra de ordem quando uma mulher fez o mesmo papel.
Pelo caminho a moranguinha (assim é a sua alcunha na língua letã) teve tempo para exibir o bíceps numa mensagem decifrada que poderia ser entendida como a prova da sua coragem. De uma dupla coragem, no fim de contas: por ter desafiado a autoridade ao invadir o campo, e pela ousadia de o fazer quase como veio ao mundo.
Agora vêm a lume notícias que dão conta da possibilidade da moranguinha ser condenada a dois anos de prisão por ter ousado exibir-se da forma que o fez. Como se não fosse suficiente a perseguição judicial, também é acusada pela imprensa e adeptos da Letónia de ser a responsável pela derrota. Quem arremete com esta acusação oferece um raciocínio linear: quando ela entrou em campo o jogo estava empatado; poucos minutos depois a equipa portuguesa marcou dois golos quase seguidos que sentenciaram a vitória. Logo, dizem os acusadores, a moranguinha terá sido a musa inspiradora dos bravos rapazes lusitanos, que ficaram com as hormonas tão empertigadas que lhes serviu de mote para vergar a equipa da Letónia. Indirectamente, terá sido a ousadia da menina semi-nua que ditou a derrota da equipa local. Só falta insinuar que a menina foi comprada pelo Sr. Madail para perturbar os jogadores da casa e dar o incentivo que faltava aos nossos, para os inscrever na rota dos golos que naquela altura estavam em falta.
Este mau perder é lamentável. Parece que querem atribuir a derrota da Letónia à graciosa invasão de campo da moranguinha. Desmerecem a justeza da vitória da equipa portuguesa, tentando encontrar um bode expiatório. Como quem sugere que se não fosse o strip público, os jogadores letões conseguiriam aguentar a virgindade da sua baliza e, quem sabe, até chegar à vitória. A acusação é impiedosa: a moranguinha foi a chave para escancarar a baliza da Letónia. Eis a traição da moranguinha à causa nacional letã!
Sem se darem conta, os desorientados letões não se apercebem de como estão mergulhados no ridículo. Sugerir que a imagem da menina desnudada com os seios dançantes ao sabor da sua coreografia motivou os jogadores portugueses é o mesmo que insinuar que os jogadores letões ficaram insensíveis à performance. Tendo o episódio funcionado como um bálsamo para os lusitanos, eis a prova de como as nórdicas adoram passar férias em países latinos. Habituadas ao comportamento gélido dos seus machos concidadãos, eventualmente desapontadas com o fraco desempenho que lhes é oferecido, ficam deslumbradas com as aptidões dos másculos latinos.
Em ocasiões anteriores, quando espectadores masculinos saltam para o terreno de jogo são logo cercados pelos seguranças que não hesitam em recorrer à brutalidade para os manietarem. Ali aconteceu tudo ao contrário. A menina esteve, impávida, durante longos segundos sem que ninguém ousasse abordá-la. Dir-se-ia que os seguranças se intimidaram perante tal quadro surpreendente. Quando finalmente um polícia se acercou dela, pegou-lhe delicadamente pelo pulso e encaminhou-a, também com delicadeza, para o exterior. Eis uma manifestação da desigualdade de sexos favorável às mulheres: quando os invasores são homens jorra toda a brutalidade da polícia; a delicadeza é palavra de ordem quando uma mulher fez o mesmo papel.
Pelo caminho a moranguinha (assim é a sua alcunha na língua letã) teve tempo para exibir o bíceps numa mensagem decifrada que poderia ser entendida como a prova da sua coragem. De uma dupla coragem, no fim de contas: por ter desafiado a autoridade ao invadir o campo, e pela ousadia de o fazer quase como veio ao mundo.
Agora vêm a lume notícias que dão conta da possibilidade da moranguinha ser condenada a dois anos de prisão por ter ousado exibir-se da forma que o fez. Como se não fosse suficiente a perseguição judicial, também é acusada pela imprensa e adeptos da Letónia de ser a responsável pela derrota. Quem arremete com esta acusação oferece um raciocínio linear: quando ela entrou em campo o jogo estava empatado; poucos minutos depois a equipa portuguesa marcou dois golos quase seguidos que sentenciaram a vitória. Logo, dizem os acusadores, a moranguinha terá sido a musa inspiradora dos bravos rapazes lusitanos, que ficaram com as hormonas tão empertigadas que lhes serviu de mote para vergar a equipa da Letónia. Indirectamente, terá sido a ousadia da menina semi-nua que ditou a derrota da equipa local. Só falta insinuar que a menina foi comprada pelo Sr. Madail para perturbar os jogadores da casa e dar o incentivo que faltava aos nossos, para os inscrever na rota dos golos que naquela altura estavam em falta.
Este mau perder é lamentável. Parece que querem atribuir a derrota da Letónia à graciosa invasão de campo da moranguinha. Desmerecem a justeza da vitória da equipa portuguesa, tentando encontrar um bode expiatório. Como quem sugere que se não fosse o strip público, os jogadores letões conseguiriam aguentar a virgindade da sua baliza e, quem sabe, até chegar à vitória. A acusação é impiedosa: a moranguinha foi a chave para escancarar a baliza da Letónia. Eis a traição da moranguinha à causa nacional letã!
Sem se darem conta, os desorientados letões não se apercebem de como estão mergulhados no ridículo. Sugerir que a imagem da menina desnudada com os seios dançantes ao sabor da sua coreografia motivou os jogadores portugueses é o mesmo que insinuar que os jogadores letões ficaram insensíveis à performance. Tendo o episódio funcionado como um bálsamo para os lusitanos, eis a prova de como as nórdicas adoram passar férias em países latinos. Habituadas ao comportamento gélido dos seus machos concidadãos, eventualmente desapontadas com o fraco desempenho que lhes é oferecido, ficam deslumbradas com as aptidões dos másculos latinos.
Que outra ilação extrair senão esta? Se é verdade que os jogadores de Letónia passaram ao lado do acto inspirador que por segundos percorreu o relvado de Riga, enquanto os portugueses viram na moranguinha a musa que os colocou na rota das energias necessárias para se encontrarem com a vitória – que outra conclusão tirar?
Vistas agora as coisas, já deves ser capaz de admitir que aquela reacção dos seguranças naquele importantíssimo jogo do Benfica na Suiça foi muito exagerada. E que ao fazerem aquilo só arranjaram forma de provocar o público (que por acaso era português, se fosse de outro país fariam o mesmo, na minha opinião) para lhes darem um verdadeiro "enxerto de porrada".
ResponderEliminarO que fizeram ao moranguinho acho normal. Afinal, que ameaça era aquela para além da interrupção momentânea do jogo? Estas invansões devem ser evitadas por quem rodeia o campo. Se alguém invade o campo, deve ser punido pela Lei, pois existe para isso, e deve ser retirado do campo rapidamente (com mais força, se resistir - apenas).
Ponte Vasco da Gama
O problema com o exercício da autoridade está no exagero no uso da violência que por vexes existe. É daquelas questões em que é difícil encontrar um limite entre o que é aceitável e o que passa a ser excessivo. Relembro o caso da Suiça, no jogo do Benfica, e é-me difícil chegar a uma conclusão inequívoca (não testemunhei ao vivo; decerto escaparam certos pormenores que tanto podiam legitimar como censurar a reacção violenta dos seguranças). A reacção despropositada do público feito de emigrantes portugueses é, afinal, a expressão do que escrevi ontem: a mania de fazer justiça pelas próprias mãos, e a “enorme valentia” de uma multidão atacar um indivíduo que se vê indefeso perante as investidas de tantos energúmenos – que não teriam a mesma coragem num frente-a-frente.
ResponderEliminarQuanto à moranguinha: só foi pena que a reacção da segurança não tivesse demorado mais tempo…
Paulo Vila Maior