Vinte anos sem muro de Berlim, esse infamante marco da história. Para um amante da liberdade – das liberdades – a evocação da queda do muro de Berlim é um tonificante mergulho no baú das recordações. As imagens de rebeldia das pessoas a escaqueirarem o muro, o efeito de contágio em que mais e mais pessoas se acercavam do muro sem o temor de serem abatidas pelas miseráveis, covardes metralhadoras dos guardas comunistas, o ambiente festivo que demolhou a revolta armazenada durante décadas de imbecil opressão – ah, como merecem ser emolduradas essas imagens. Como mostruário da essência de liberdade que percorreu as veias das pessoas que gritaram contra a artificial divisão de uma cidade, de um país. Contra o artificial espartilho determinado pela oposição das ideologias que, quando se impõem sobre as pessoas, são uma artificialidade que abjura a natureza humana.
Há lugar a festejos, hoje que passam vinte anos da aurora de liberdades que começou a despontar para tantas pessoas que viviam encerradas no obscurantismo? Não direi que não. Ao menos, a evocação da efeméride serve para recordar o bem inestimável que foi conquistado. Não digo que as celebrações tenham que permanecer solenes, pomposas; as duas décadas que passaram foram suficientes para sedimentar as liberdades, alguma liberdade, onde elas estavam ausentes. Insistir na solenidade das comemorações banaliza o valor da liberdade. Talvez então se perceba por que motivo as autoridades insistem na pública glorificação da data.
O mal das bebedeiras de felicidade é que transportam consigo a ressaca do dia seguinte. O inestimável bem do colapso do muro de Berlim foi a oportunidade para milhões de pessoas retomarem o contacto com a liberdade (no caso dos mais novos, de aprenderem a saborear a liberdade). No dia seguinte à festança, sobra aquela sensação de vazio, como se o êxtase de sensações no zénite da algazarra as tivesse diluído no que sobrou do corpo. Assim vejo os despojos do muro de Berlim. Uma enorme conquista para a liberdade, para o usufruto das liberdades.
(E aqui desconto algum revisionismo histórico dos que começaram o processo de orfandade no dia em que o muro veio abaixo. Compreendo-os, nas circenses cambalhotas argumentativas que dão para explicarem que o mundo ficou mais terrível depois do muro ter sido derrubado. São os argumentistas que acusam hediondas teorias da conspiração de, elas sim, terem contado uma história que é revisionista. Não havia prisões por delito de opinião, nem purgas, a espionagem à gente comum era diferente da praticada pelos sinistros funcionários da PIDE (espionagem que contribuía para todos serem exemplares – uma espionagem pedagógica), havia imenso pluralismo político. Quando nos contam o contrário, é uma insidiosa manobra de agentes a soldo do capitalismo que querem liquidar de vez o comunismo. Daqui dou-vos uma ajuda, ó revisionistas de serviço: denunciem tudo isso e acusem tais agentes de genocídio ideológico.)
O que eu acho é que a festa ficou a meio. Toda aquela gente, satisfeita com a deposição dos tiranetes, alambazou-se com o terreno conquistado para a liberdade. Se for acertado que é da natureza humana sermos exigentes em relação ao que surge por diante, ainda há alguns muros de Berlim, muitos deles escondidos à socapa debaixo dos nossos narizes, que merecem o camartelo. Há ainda muito a fazer pela liberdade, pelas liberdades. Porque as democracias continuam a ser um sistema de tutela das liberdades e da liberdade. O diagnóstico piora quando somos testemunhas de "democracias musculadas" sob pretexto da defesa das liberdades. Uma absoluta contradição de termos: cerceiam-se as liberdades para garantir a segurança contra as ameaças dos que atentam contra a nossa liberdade.
É nisto que ainda falta terminar a obra começada há vinte anos (e uma obra também se faz destruindo o que foi erguido). Não troco a liberdade pela segurança. Que, ainda por cima, não é garantida – não passa de uma conjectura. A obra termina-se dentro da cabeça de cada um de nós.
Estou fazendo uma Campanha de Natal para crianças necessitadas da minha comunidade carente,são crianças que não tem nada no Natal,as doações serão destinadas a compra de cestas básicas-roupas-calçados e brinquedos. Se cada um de nós doar-mos um pouquinho DEUS multiplicará em muitas crianças felizes. Se voce quiser ajudar é fácil,basta depositar qualquer quantia no Banco do Brasil agencia 3082-1 conta 9.799-3 Voce verá como doar faz bem a Alma,obrigado. meu email asilvareis10@gmail.com
ResponderEliminar