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(Podia ser um retrato das coisas como elas andam)
Se alguém tem uma doença, vai
ao médico. Se a doença persiste e retira a confiança ao médico, procura outro.
E outro atrás de outro, enquanto a maleita persistir. A certa altura, deixa de
ter confiança na medicina tradicional. Entrega-se aos cuidados de curandeiros
que prometem a redenção através de mezinhas e tratos esotéricos. O desatino
pode dar nisto.
Se o desnorteamento não chega
a tanto, e se a forma convencional de ser faz deste nosso cidadão o protótipo
da mediania, não chega a perder a confiança na medicina. Vai mudando de médico.
À medida que os tratamentos confecionados deixam de ser paliativos e as dores
crescem na embocadura de cada manhã, cavando o fosso onde o ser decai. É então
que muda de médico. Informa-se. Há médicos outros que prometem tratamentos
diferentes. Um fogaréu de esperança invade o nosso doente. Demite o médico incapaz
e muda-se para as prescrições curandeiras do médico que oferece terapêutica
alternativa. Iludido pela consumição do sofrimento, o nosso doente nem dá conta
que se entregou aos médicos que foram causadores do seu mal. Os mesmos médicos
com um receituário que, na volta da curva, foi a semente da doença do nosso
cidadão. Ele, desesperado pela dor que morde tão incisiva, quer que lhe
prometam mundos que sejam a desconfiguração da enfermidade teimosa. Talvez a
ansiedade embacie o juízo. E o nosso doente nem dá conta que voltou para os braços
dos mesmos médicos que o acamaram nesta pungência.
Estes, vestindo a branca bata
e ostentando vistoso estetoscópio, fazem-se passar por o que afinal não são. De
curandeiros não passam – ou, vá lá que a condescendência pode ganhar seu lugar,
foram medíocres estudantes de medicina e continuam a ser seus maus praticantes.
Desembainham receituário repetido, nem sequer percebendo que o cocktail de medicamentos que preceituam
foi a dose quase letal que entregou o nosso doente aos padecimentos
hospitalares.
O que se dirá de médicos de
semelhante jaez? Que de curandeiros não passam. Amadores e míopes.
(Podia ser um retrato das coisas como elas andam. E não é que, pelo
andar das coisas, é mesmo seu retrato?)
Quando era criança não percebia por que razão, nas mais diversas circunstâncias, os adultos (principalmente os que tinham idade de avós) se despediam de mim com os olhos brilhantes e as seguintes palavras: "saúde, minha querida menina ... muita saúde). Agradecia e pensava: Mas eu não estou doente!
ResponderEliminarHoje, compreendo. Eles tinham toda a razão ...