20.9.24

A beleza de pertencer a uma seita

The Smile, “Zero Sum”, in https://www.youtube.com/watch?v=TJ4lG5Szr50

Os mais novos angustiam-se depressa e com muita facilidade. Cada problema que mede milímetros é como se pesasse toneladas. Quando acontece, começam a ser invadidos pelo pânico que espalha cenários terríficos, quase como o seu (pequeno) problema fosse acabar com o mundo. É uma geração que se deixa contaminar muito depressa pela promessa de vários apocalipses. Para o caso de um não se materializar, outros seguem em carteira.

E não aprendem: já terão passado por vários quase-apocalipses e continuam à espera do próximo. Podiam ter aprendido com as experiências transatas, com o cheio a apocalipse que não passou disso mesmo, de um mau agoiro que não dita o fim do mundo. Todavia, montam um registo histriónico e abraçam-se à apoplexia, como se o mundo for mesmo acabar se o seu milimétrico problema não for resolvido. Quem o resolve são sempre os outros. A externalização das angústias pode desatar uma multiplicação de estados catatónicos, se em cadeia fruir uma multidão que exagera no diagnóstico e se deixa convencer que um ínfimo problema vindima o fim do mundo. 

Talvez pudessem pertencer a uma seita, daquelas que explora à exaustão os malefícios de habitarmos este mundo puído e esperam que ele acabe para se resolverem os problemas de uma vez por todas. Dessas seitas influenciadas por gurus que têm um poder hipnótico, tantos os seguidores que conseguem atrair. São potenciais suicidas: se o mundo vai acabar, não será excêntrico imaginar que será um espetáculo medonho; talvez prefiram ceifar a vida para não serem dizimados pelo fim do mundo. Os gurus nunca explicaram porque são tão apocalípticos e, em o sendo, não antecipam o golpe fatal e deixam de cá estar para ver como o mundo acaba. Os confrades destas seitas, em perene estado hipnótico, não fazem essa pergunta a si mesmos e aos gurus que tão devotamente seguem (não necessariamente por esta ordem).

Tal como o terrífico fim do mundo, que resolve todas as pendências que impedem o reconhecimento da perfeição do mundo, as angústias extemporâneas podiam ser tratadas com psiquiatra ou a pertença a uma seita que valide um esoterismo. 

A magia, o mistério e a especulação sempre foram do agrado das pessoas quando ninguém devolve resposta às suas dúvidas existenciais.

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