11.6.24

Pelo nome próprio, por favor

Groove Armada, “At the River” (live at Brixton), in https://www.youtube.com/watch?v=JdP4AfKGr-I

Somos novos e queremos ser respeitados pelos pergaminhos adultos que ainda não temos. Tememos que não nos levem a sério – ou: envelhecemos antes do tempo, despreocupados com a idade vertiginosa em que o tempo parece ser uma desmultiplicação de si próprio, ansiosos por chegar depressa de mais a uma idade que irá somar arrependimentos. 

Rogamos que nos tratem pelo nome de família, só pelo nome de família. Precisamos de ser respeitados como adultos (a destempo). A base da inexperiência tutela os juízos destemperados: como se o tratamento pelo nome de família, apenas o nome de família, fosse caução do respeito de que ainda não somos credores por défice de idade. Queremos ser torpedeados pela usura de um tempo que ainda não é nosso. Perdendo o vínculo com a meninice, quando o nome próprio era precedido de “menino”. 

Menino é ofensivo. Desqualifica-nos. Éramos atirados para um interminável poço do tempo em que o vagar impedia que pudéssemos fazer as coisas que são coutada dos adultos. A meninice é a pré-história que não traduzimos em memória(s). Quando fomos empossados adultos, continuámos iludidos pela farsa do tempo: pela farsa, de que éramos tutores, sobre a lonjura do tempo. Esse tempo era sempre zilhão. Como se arrastava, e o seu arrastamento era o estuário de adiamentos, queríamos ser uma aparência de experiência consanguínea a uma idade que não tínhamos. E rogávamos para nos tratarem, apenas, pelo nome de família. A omissão do nome próprio era a chancela da matéria adulta que demorava a ser reconhecida. 

Um salto no tempo: agora que pressentimos a escassez do tempo, procuramos fórmulas que o retardem. Convivemos mal com a extinção dos nomes próprios. Sentimos o tempo a abreviar-se, a metáfora do horizonte que desmaia na finitude destinada. Agora desejamos, como ilusão sucessiva, o contrário do que desejámos quando não tínhamos a noção da finitude destinada. Já deixamos de insistir que nos tratem pelo nome de família. Queremos que a familiaridade se filie no nome próprio, só do nome próprio. Já que não podemos resgatar o “menino” a preceder o nome próprio.

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