The Hard Quartet, “Earth Hater”, in https://www.youtube.com/watch?v=zlveAf37fjE
Soltavam-se as vontades transeuntes, como se apenas contassem os acasos: as vozes sem regra voavam entre os dias, emprestavam as suas cores aos lugares que serviam de estafeta. Os olhos estremunhados seguiam pelo dia fora. O fim de semana é o cabaz onde a preguiça se espreguiça – é dos costumes a que as pessoas obedecem sem os interrogarem. As vigílias montadas são sempre bandidas. Deviam ser banidas, se os costumes não exaurissem o pensamento sem peias. As frases soltas amontoavam-se e meias com as frases-feitas e os rostos que procuravam afirmar um nome punham-se em bicos-dos-pés, à procura de visibilidade (que é o estatuto que precede a notoriedade – todas essas personagens queriam ficar emolduradas para a posteridade como “notáveis”, talvez até com direito a lugar na toponímia local). Se não fossem os biscates, não havia ordem – alguém disse durante três segundos de silêncio que foi possível descobrir entre a amálgama de falas sobrepostas. Muitos não ligaram, era uma frase banal. Alguém reteve a deixa e ficou a pensar: não se pode encontrar ordem no sistema desordenado dos biscates. Os entendidos diriam tratar-se de uma contradição de termos. Mas depois deixou o pensamento mergulhar em águas profundas. Os biscates dão forma a uma ordem própria num lugar que tem aversão à ordem. Tudo o resto pertence à escala da desordem, num costume entranhado que não se questiona. Ai de alguém que viaje para um lugar que seja a antítese da desorganização hasteada, sente um desconforto a tomar conta das veias ao ser instruído das várias alíneas e subalíneas em que se decompõe a ordem estabelecida e meticulosamente respeitada (saber-se-á não haverem párias). Os biscates são perseguidos pelas autoridades. E eles não entendem porquê. Vaticinam que maior seria a prosperidade daquele lugar se houvesse direito a biscates. Não sabem como errado é esse vaticínio.
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