Cage the Elephant, “Cold Cold Cold”, in https://www.youtube.com/watch?v=n95eekfFZZg
Um longo bocejo cobre a valsa intemporal. O espelho virado do avesso separa os vestígios puídos que se arrastam sem se deterem. Convocadas ao estirador onde as almas são aferidas, as vozes sentinelas preferem o silêncio. As tardes baças encomendam o estertor do dia. O crepúsculo coloniza a claridade; desfaz o fingimento da claridade, que ocupará as horas prévias com um ardiloso teatro que distraiu os inocentes para a matéria vã da frivolidade.
Alguém pergunta:
- Não é melhor, ou digamos, menos mau contratar a frivolidade, em vez de sermos testemunhas à força do desprezível estado das coisas e das pessoas? Se nos acusarem de sermos os mais altos serventuários do fingimento, consideramos, pelo contrário, um elogio? Não nos esqueçamos do teatro como arte sublime do fingimento. Não nos esqueçamos – insto, com a ênfase necessária – que o fingimento pode ser a vacina necessária contra o estado desprezível das coisas e das pessoas, contra as palavras que, ditas mansamente, alojam uma agressividade desarmante.
Vivemos um tirocínio interminável. Reféns da intransigência que se joga contra nós, somos apenas presas domadas nos dedos maninhos da inocência. Uma e outra vez, sem aprendermos a aprender que as balas que nos trespassam nunca são julgadas por contumácia. Nós é que mergulhamos na contumácia de nós mesmos, como se nos tornássemos espectadores passivos da nossa biografia desentrapada, exposta no maior palco do mundo. No palco onde a vergonha foi destronada.
Amarrados às cordas arbitrárias, não podemos aceitar a bondade certificada. Juntamos as miragens hasteadas em estrofes douradas, os beijos que ficaram aprisionados em sonhos, a grotesca, funda gruta que nos impede de saber a gramática do sol, e nem assim nos soltamos da hibernação. Enquanto não soubermos dizer, sem medo das vozes que estão de atalaia à espera de nos punirem, que não nos perguntaram se queríamos a hibernação, seremos meros vultos disformes, marionetas à condição sob a égide das vontades exteriores que silenciosamente torturam a nossa vontade.
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