16.7.25

Nó na garganta

Boards of Canada, “Reach for the Dead (for Tomorrow’s Harvest)”, in https://www.youtube.com/watch?v=2jTg-q6Drt0  

Por vezes, usamos gravatas apesar de ninguém as ver. 

Não somos à prova de angústia. Se somos assaltados pelo imponderável, se ficamos na mão de contínuos sobressaltos e o coração se submete a taquicardias, é ao sentirmos um aperto na garganta que nos aproximamos da apneia dos sentidos. A falta de ar é mais do que simbólica. 

Quando sentimos o nó na garganta, a lucidez tende a ausentar-se. Se não a perdêssemos saberíamos que a reação imediata é desatar o nó que cerceia a garganta e limita o ar que a atravessa. Quanto mais apertado for o nó, maior é a privação de oxigénio, o que explica a perda de lucidez que vai subindo com o tempo que passa. Às vezes, a pressão que consome o pescoço apertado e torna o ar rarefeito impede o impulso que alivia o nó que adeja sobre a garganta. A menos que alguém venha em socorro da vítima e por ele alivie a atadura, o nó pode ser irremediável se for implacável ao abraçar-se à garganta.

Os nós na garganta podem ser voluntários quando a lucidez se ausenta antes de a garganta ser garrotada. É um processo autoinfligido. Quando o risco assumido é mal estimado e não se calculam com rigor os efeitos imprevisíveis, as consequências sobrepõem-se à vontade e ficamos à sua mercê. É como ser testemunha de uma súbita subida de nível de um rio alimentado pela chuva torrencial de dias consecutivos e não poder reagir, a não ser tomar as precauções atempadas e subir para cotas mais elevadas e observar como as águas vão subindo de nível, transbordando para as terras limítrofes. Se não dermos ouvido aos avisos das autoridades e continuarmos na ilharga do caudal, vamos ser apanhados pelas águas que se revoltam contra o leito que recebe o caudal.

Há gravatas que apertam menos do que os nós na garganta que nos assediam.

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