3.12.25

XLV

The The, “Cognitive Dissident”, in https://www.youtube.com/watch?v=Gmwkzk2bPms

The revolution’s been authorized.

The future? Privatized.”

Corrias por tua conta. Colhias no orvalho invernal a fonte que ajudava a matar a sede do tempo incógnito. Corrias por tua conta e não querias que mais ninguém corresse por ti. Amanhecias no sopro de dezembro, sentias aquele frio que se embebe nos ossos e, todavia, consagra o inverno precoce. Não figuras entre o numeroso exército que é capaz de organizar preces para apressar o inverno.

Um dia soubeste que queriam privatizar o tempo. Nem quiseste saber de outros pormenores. Mesmo a tua objeção metódica à posse pública das coisas (eras conhecido por defender em público a privatização de muitas coisas detidas pelo Estado) não foi suficiente para dares a mão aos promotores de uma ideia tão desconchavada. Temias que a voz dominante, aquela que se insurge contra o outono e o inverno e colonizou o idioma e os usos por fazerem corresponder o tempo dominante ao “mau tempo”, fosse capaz de reduzir o tempo outonal e a invernia a estações minimalistas. Temias que os que queriam privatizar o tempo tivessem encomendado de latitudes tropicais o tempo quente e húmido que dispensa a existência de estações. Só de pensares na hipótese já estavas a suar, mesmo que lá fora estivesse um frio pré-invernal.

Planeaste um movimento de sentido contrário. Tu, que odeias os conservadores de pacotilha que têm medo de qualquer mudança, serias ponta de lança de um movimento contra a privatização do tempo. Farias campanha a favor da perenidade das estações tal como as conhecemos. Irias mais longe: como parte integrante da contracampanha, farias circular um abaixo-assinado para rever o significado de “mau tempo”. Para se extinguir a correspondência entre a chuva e o vento e as tempestades e “mau tempo”. Os meteorologistas seriam os primeiros a serem instruídos. Estariam proibidos de pronunciar a expressão “mau tempo”.

Já mobilizavas a ausente militância de coisas públicas quando te chegou ao conhecimento que a intenção de privatizar o tempo não tinha a ver com o tempo meteorológico. Queriam privatizar o tempo, mas era o tempo cronológico. Desmontaste toda a pré-campanha que te varria o pensamento de ideias fulgurantes e começaste a pensar como haverias de reagir à ideia de que o tempo, o tempo contado pelos relógios, poderia ser sujeito a privatização.

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