TV on the Radio, “Wolf Like Me” (live at Glastonbury 2011), in https://www.youtube.com/watch?v=tYAyt8XV7Lc
As agulhas alvejam os pacientes. Mas eles não se movem. Não exibem queixumes – outros que tais, peritos no fingimento. Dizem, sem que alguém os ouça: não damos parte de fraco. Exasperam os beligerantes que dispararam as agulhas. Ficam sem saber se as agulhas alvejaram quem tinham de alvejar no sítio certo, ou se ficaram por conta de um ato malogrado. Para não sobrarem dúvidas, preparam outra ronda de artilharia. Serão mais meticulosos para não acertarem ao lado, que não é acertar nem coisa nenhuma (a não ser um desperdício de recursos, que as agulhas estão pela hora da morte). Os pacientes já estavam à espera da segunda ronda. Por se mostrarem pacientes e não darem parte de fraco, sabiam que os agressores iam recorrer a uma segunda dose de artilharia. Continuam a exibir nervos de aço, ainda que a segunda ronda de agulhas seja mais dolorosa. Disfarçam a dor como critério de dissuasão. Esperam que a exasperação dos beligerantes os faça perder a paciência. Eles é que não têm nervos de aço. Pode ser que desistam das intenções agressivas ao verem a impassibilidade dos alvejados. As vítimas, que não acusam a dor de quem foi atingido pelas agulhas, domam a dor para convencerem os agressores da inutilidade da agressão. Se mantiverem os nervos de aço, os agressores vão perder a paciência. O efeito pode ser o contrário do pretendido se os agressores recorrerem a artilharia mais pesada. Os que têm nervos de aço não desmobilizam. Essa é a única diplomacia à sua disposição, a sua única esperança na extinção da agressão. O perdão da agressão nem se coloca a quem fingiu que a agressão não aconteceu. Fossem de matéria frágil os seus nervos, e por esta altura os alvejados já estavam nas mãos dos mastins. Com os nervos de aço, querem vencer os mais fortes pelo cansaço.
Sem comentários:
Enviar um comentário