5.9.25

O que eu sei

Soundgarden, “The Day I Tried to Live”, in https://www.youtube.com/watch?v=dbckIuT_YDc

Que sei eu? Apraz-me saber da arte das interrogações. Não ficar confortável com as respostas que parecem parar o tempo, assim que um rebite do conhecimento se engasta na imensa totalidade do mundo. Ando com uma prolixa carteira de perguntas escondida no pensamento. Não a revelo antes do tempo; só quando a urgência do momento dita o seu parto é que se torna conhecida uma das perguntas que estavam em lista de espera. 

Fujo do conhecimento que não conheço. Deixo-o para os peritos, que podem me ajudar a acender alguma luz na questão até então inacessível. Do que fujo é dos especialistas em tudo-e-mais-alguma-coisa, gente encartada em saberes diversos e variados. E fujo daquela multidão que não parte de um princípio de autoexigência e se satisfaz com a mistura de lugares-comuns, inexatidões e erros, entre o deslize sem grandes danos e o erro grosseiro, de que os versáteis sábios são pródigos. 

O que sei, procuro saber de fonte segura. Com a ciência como fundamento, cruzando saberes diversos que se completam e cotejando os lados diferentes de uma controvérsia (quando ela é anotada). 

A tutela da humildade é não sermos passageiros da aventura da ignorância ou da viagem da desonestidade. Assenta num módico de humildade e termina com o respeito pela honestidade consigo mesmo. Os peritos em tudo-e-mais-alguma-coisa não respeitam as duas condições. Há os que se distinguem na desarte por serem vítimas de um voluntariado acidental. E há os que se promovem na intencionalidade do logro, não alcançando que vivem cercados pela mentira de si mesmos. 

O que sei é a soma aritmética do que fui poupando pelo tempo que foi sendo generoso no conhecimento que às minhas mãos veio parar. Rejeito imperativos categóricos, pressupostos inamovíveis, saber muito de cor para não prejudicar a cor do saber. E deixo ao silêncio o preço do desconhecimento, para saber ser o contrário do que são os vendilhões do saber.

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