Virginia Astley, “Love’s a Lonely Place”, in https://www.youtube.com/watch?v=Xw9lIH2gkfE
Apalavradas as promessas que são por junto um contrato sem assinatura. As intenções não se escondem das juras autenticadas. Serão julgadas quando, ao cabo dos prazos embainhados, os procuradores forem chamados a depor. Nessa altura, ser-lhes-á perguntado se as intenções receberam materialização, ou se ficaram esquecidas num tempo açaimado pelo nevoeiro.
As provas esbarram nas vozes que se sobrepõem: as falas, viradas do avesso pela cacofonia pervasiva, como que grasnam ditongos ininteligíveis, sem se afigurar uma frase clara. Se os procuradores estiverem distantes do rigor, talvez adiram à complacência frouxa e desnivelem o juízo esperado. Dirão a sua justiça: as promessas foram satisfatoriamente cumpridas (e soletram as sílabas de satisfatoriamente). Todos ficam contentes. Os promitentes, que em seu escrutínio conseguiram-se desembaraçar com a honra mínima; os que tiraram partido das promessas, convencidos pelos procuradores que a empreitada correspondeu aos mínimos exigíveis; e até os procuradores, convencidos que a indulgência também é em causa própria.
Poucos saberão aferir o advérbio satisfatoriamente. Na escala de valores atribuídos, é um patamar intermédio entre excelência e mediocridade. Arrastam-se os satisfatoriamente por um “e assim consecutivamente”, que o traduz numa aceitação mais elevada. O satisfatório eleva-se a um bom, pelo menos. A generosidade dos procuradores inventariou novos parâmetros. Quase ninguém é medíocre. É uma solidariedade de pares. Quase ninguém ousa rematar a tarefa assentando na mediocridade do escrutinado, para não correr o risco de sobre ele/ela se abater o mesmo opróbrio mais tarde.
Consecutivamente, o apuramento entre pares verte-se na condescendência tutelar – e todos somos pares quando coabitamos sob os auspícios da mesma pertença. O rigor fica esquecido nos patamares onde as sindicâncias têm lugar. Um nirvana fingido cobre os lugares com a convocatória da generosidade precisa para ninguém ficar de fora.
Vamos ao alfobre do consecutivamente para incluir todos na bitola do satisfatório. Reféns da satisfação em forma de mínimo denominador comum, vemos rarear a excelência. Vamos a caminho do esquecimento da excelência. Perseverar é oneroso. Antes uma lógica de mínimos, para termos tempo para a aplicarmos ao muito tempo livre que sobra.
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