Explosions in the Sky, “Moving On”, in https://www.youtube.com/watch?v=9rI16AJ3Rik
(Incógnito)
Participamos na vertigem dos elogios. Os dedos vagos avançam sobre o mapa como se fossem estrelas. Procuram a lua como refúgio. A sua gramática não é vendável. Dedicam um poema a quem gostariam de verter felicidade. Os dedos procuram a manhã às escuras. Como se os olhos precisassem de vendas para saber procurar lugares, sem ajuda. Alguém exclama que o tempo nunca se cansa. Eu digo que nos cansamos do tempo. Fugimos dele, mas não conseguimos. Somos as árvores condenadas a ostentar as folhas caducas quando o pessoal Outono lança âncora na nossa carne. Só para subir as ruas que dão acesso ao miradouro e daí apreciar demoradamente o ocaso. Até pode passar a noite inteira, que os olhos treinados saberão distinguir as várias cambiantes que se desfiliam do tempo tutor. Aparecem, em forma de vestígios, deslaçadas e impuras, traduzem a desorganização em que as vidas parecem campear. Alguém diz: isto está a precisar de ordenação; de uma mão certeira que conviva com um tempo que conjura contra nós. Mas se dizem que o tempo é irrefreável, que está embebido numa vontade que excede a nossa, como o domesticamos? Alguém sugere a construção de barragens que domestiquem o tempo; um plano hídrico pessoal, com as barragens construídas em lugares nunca ao acaso, só para meter o tempo na ordem e nos deixarem com uma sensação, enfim, de vazio. As empreitadas oníricas não são desta dimensão. Os dedos cansados defumam os sonhos inconfessáveis com pétalas de flores perfumadas. Esperam que voltem a sonhar fora dos deslimites para que tinham sido atirados pela ousadia dos loucos que conspiram. Para esta empreitada não são precisos embaixadores. Os dedos contam consigo e sabem ser os arquitetos dos mapas necessários. O amanhã serve-se na fria demanda dos que desacertam os oráculos. Pois é assim que o amanhã é, à prova de oráculos.
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