The Jesus and Mary Chain, “Blues From a Gun”, in https://www.youtube.com/watch?v=TIOim3J-jpU
As velas escarlate assobiam as estrofes espontâneas. Ninguém sai à rua, está uma chuva de Verão que faz desabar os céus. Há segredos que repousam nas fronteiras de cada um, silenciados por serem segredos. Não se prevê a sua revelação. Muitos deles serão sepultados com quem os tutela. As ruas passam pelo olhar que se desprendeu das âncoras do dia. A sorte dos audazes corre por sua conta. E nós corremos contra o muro do tempo, as mãos inundando os rios diuturnos. Quem desaconselha os conselhos ajuramenta o silêncio para memória futura. E se o tempo andasse ao contrário? E se as palavras sobressaltadas se arrumassem num inventário sem autor e todos os rostos fossem anónimos? Os dias que se concluem sussurram a sua indiferença: protestam horas extraordinárias que lhes dariam a possibilidade de adiar a alvorada do dia consecutivo. Reféns dos santuários que prometem o porvir, vertem-se procrastinações sobre as folhas do tempo. Dizemos: o dia de hoje não fica por aqui, amanhã é a sua extensão. E muito embora as convenções ensinem que os dias obedecem a calendários e vetustos cânones, desafiamos tudo o que esteja estabelecido: dias há que não findam à meia-noite. Conservamos a chave-mestra que decide quando desalfandegar o dia neófito, mesmo que já não demore o entardecer. Não temos medo da insolvência do tempo, se assim procedermos. Às vezes, é melhor deixar as pendências para o momento devido. Sem recurso aos tribunais do tempo nem acolher a audácia dos mestres de obras que enfiam os dias em meticulosas vinte e quatro horas. Prometemos que as pendências serão curadas a tempo de ainda serem tempo. Depois julgamos a oportunidade do adiamento, empenhados pela imparcialidade de modos. Até lá, esperamos com a paciência de quem sabe não ter provimento para apressar o tempo.
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